O colombiano nem precisou de marcar golos para que o antigo extremo lhe tirasse a pinta de craque. Mas do jogo de anteontem guardou ainda a imagem de uma equipa que "sabe sofrer".
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Pouco mais de 12 horas depois de ter visto o Sporting vencer o Marítimo no Estádio de Alvalade e a poucas horas de regressar a Itália depois de uma viagem-relâmpago a Lisboa, Ivone De Franceschi, sem esconder algum cansaço após uma noite longa com alguns amigos portugueses, falou com entusiasmo do clube que representou em 1999/2000, ano em que ajudou os leões a ganharem o campeonato 18 anos depois. Ainda ídolo junto dos adeptos, como comprovou em pleno relvado anteontem, o antigo extremo italiano, 39 anos, congratula-se por, aparentemente, o Sporting ter encontrado o rumo certo, depois de uma época para esquecer. Atualmente desempregado, desde que no verão deixou de trabalhar no departamento técnico do Pádua, elogia Inácio e a Direção na construção de um plantel que considera estar a ser bem dirigido e tem muito talento.
Como viveu e como analisa a vitória do Sporting frente ao Marítimo?
Foi um bom jogo, emocionante e que provocou alguma ansiedade. Mas, no final, todos os sportinguistas saíram felizes. Gostei muito da equipa, pareceu-me que tem ótimos jogadores. Num clube como o Sporting, é normal que assim seja, mas as grandes equipas, as que ganham títulos, não precisam apenas de jogadores bons; as grandes equipas precisam de saber sofrer. Ontem, o Sporting soube sofrer e mostrou ter força física e mental para virar o resultado. Conseguiu-o com muito mérito.
Houve algum jogador que se destacou, que lhe tenho enchido as medidas?
Em primeiro lugar, claramente o extremo canhoto, o Capel. Fez um grande jogo, foi decisivo.
Fez-lhe lembrar alguém?
[risos] Sim, eu também era extremo e canhoto... mas não faço comparações; Capel tem muita qualidade, tem força, finta e sai em drible. Tecnicamente é um jogador muito bom, alguém que pode fazer muita diferença numa equipa, como sucedeu ontem, marcando e assistindo no empate.
E, quanto a outros destaques, o que achou de Montero, que é o melhor marcador do campeonato?
É muito bom jogador, não tenho a mínima dúvida. Impressionou-me, mesmo se ontem não conseguiu marcar. É um avançado que se sabe movimentar muito bem, faz jogar a equipa, consegue gerir a posse de bola... Gostei mesmo muito dele, é um daqueles avançados que se vê logo que jogam muito à bola. Não precisa de marcar para ser influente no jogo da equipa.
O que pensa dos médios?
Gostei em particular de dois deles, do loiro, o Adrien, e do negro, como se chama... William, não é? Não o conhecia bem e impressiona pelo porte físico. Apesar da sua estrutura, é tecnicamente bom com a bola nos pés. Os dois fizeram um jogo muito bom.
Fala-se na possibilidade de William Carvalho, que tem sido uma das revelações da época, ser chamado para disputar por Portugal o play-off do Mundial com a Suécia. Acha que ele está preparado?
Qualidade tem, seguramente, pelo que me foi dado a ver. Fisicamente é um médio que se faz notar, sabe jogar com a bola nos pés. Na seleção portuguesa, naquela posição costuma jogar o Miguel Veloso, não é? É muito diferente, é um jogador mais lento, mas muito bom tecnicamente. O William parece-me já ter nível de seleção, mas não tem grande experiência e, num play-off tão decisivo quanto este, se calhar será prematuro lançá-lo na equipa.
Quem mais lhe chamou a atenção?
Como já tinha dito, pareceu-me que o Sporting tem jogadores com qualidade em todos os sectores. Há muita juventude e potencial. Gostei também do central, o Eric Dier, não tanto pelo jogo que fez, mas porque demonstra ter grande personalidade em campo, sobretudo com a sua idade e para a posição que ocupa. Vê-se que ainda precisa de crescer como jogador, mas tem qualidades. Acredito que pode melhorar muito.
Como avalia a equipa coletivamente?
É uma equipa com uma qualidade média/alta, isso parece-me claro. Mas fiquei com a ideia de que está a ser muito bem trabalhada pelo treinador, o Leonardo Jardim. Há indicações muito positivas. Vê-se que há uma intenção de jogar um futebol atraente e ofensivo.
Ontem, o Sporting esteve a ganhar, a perder e depois deu a volta ao marcador. Foi mérito do treinador, dos jogadores?...
Devo dizer que gostei muito das opções do técnico e da forma como ele reagiu às incidências do jogo, fazendo trocas que se revelaram acertadas e decisivas. Gostei também muito da atitude que a equipa trouxe para dentro de campo após o intervalo. Na primeira parte, a exibição foi muito intermitente, mas depois foi mais agressiva, no bom sentido. E, muito importante, vi o público a puxar pela equipa - deu sempre muito apoio e julgo que os jogadores sentiram isso em campo.