Duas enormes defesas de Reina, uma bola ao poste e um golo mal anulado impedem o FC Porto de ir a Nápoles mais tranquilo, embora Helton também tenha estado em destaque
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Grande jogo no Dragão. Emocionante, bem jogado, com sorte e azar misturados, e uma péssima decisão do árbitro, ao invalidar um golo a Carlos Eduardo, o que impede o FC Porto de ir a Itália com uma almofada bem mais confortável. Mas, ganhar sem encaixar golos era o objetivo prioritário e esse foi cumprido. Agora falta a segunda parte de uma eliminatória em que a equipa vai ter de saber sofrer muito para seguir em frente. Ainda por cima, Luís Castro terá de improvisar na defesa por causa da suspensão de Alex Sandro.
Vamos ao factos: segundo jogo, segunda vitória do novo treinador portista e o primeiro triunfo europeu em casa. Está quebrado o enguiço, com um "pormaior" a que Luís Castro fez referência na antevisão e que rompe com o passado recente: ao contrário dos seis jogos anteriores, Helton não sofreu golos. E, em boa parte, por inteira responsabilidade dele, já que o brasileiro fez duas defesas do outro mundo. O treinador portista assumiu o modelo de jogo com apenas um médio recuado, confirmando-o ontem perante um adversário de calibre bem diferente do Arouca. Mais do que isso: é por demais evidente que os jogadores estão mais soltos e mais confortáveis em campo, demonstrando ainda uma enorme capacidade de sofrimento quando os italianos apertaram. Um aperitivo do que poderá ser a visita ao San Paolo, dentro de uma semana.
Apesar de uma segunda parte de loucos, as equipas até entraram na partida zangadas com as balizas. Só ao fim de 10' a bola chegou com relativo perigo a uma das áreas, no caso a de Reina, a impedir um cabeceamento de Varela. Aliás, cedo se percebeu que este teria de ser um jogo de paciência, porque as equipas encaixaram na perfeição. O Nápoles veio ao Dragão jogar... à italiana; não enganou, dizendo logo ao que vinha: segurar o mais possível na defesa e apostar num futebol direto, à procura de Callejón e Higuaín. Até os cruzamentos durante boa parte da partida saíam de muito longe e revelavam-se fáceis de resolver.
Rafa Benítez usou dois pivôs defensivos - Henrique na sombra de Carlos Eduardo e Behrami no encalço de Defour - com Hamsik mais adiantado. Por isso, só quando Carlos Eduardo encontrou, ou inventou, espaços é que os tricampeões nacionais criaram perigo. Como sucedeu aos 12', com o brasileiro a colocar na perfeição para Jackson fuzilar Reina. A defesa foi impressionante. Pouco depois, surgiu o tal erro grave do árbitro, a anular um golo limpo de Carlos Eduardo. O ritmo baixou e, até ao intervalo, os guarda-redes não voltaram a ser incomodados.
O reinício foi brutal, com Fernando a lançar uma bomba que Reina desviou com a ponta dos dedos. Logo de seguida, foi Quaresma a tentar de longe, mas a bola saiu à figura. O FC Porto parecia apostado em acelerar a circulação para chegar à vantagem, mas foi a estratégia do Nápoles que, aliada a alguns erros defensivos - esta questão ainda precisa de trabalho por parte de Luís Castro -, começou a dar frutos. Foram três as ocasiões de golo em que ao FC Porto valeu um Helton de alto rendimento, mas valeu também a sorte, que tantas vezes traiu a equipa na era de Paulo Fonseca. Curiosamente, com uma enorme dose de cinismo, característica indispensável às equipas italianas, foram os dragões a marcar de seguida (57'), na sequência de um canto. Estava materializada a vantagem, mais merecida na primeira parte do que naquela altura, diga-se.
Manter o ritmo frenético era impossível e a intensidade baixou. O FC Porto procurava controlar, mantendo a posse de bola, e Rafa Benítez continuava na expectativa, adiando as mexidas na equipa até ao último quarto de hora, período em que a emoção voltou ao Dragão: Quintero enviou uma bola ao poste antes de Maicon salvar na linha um desvio de Zapata, o mesmo que, no último lance, teve o empate nos pés. Só mesmo com o apito final é que Luís Castro e os adeptos respiraram fundo. A vantagem pode ser magra, mas obrigará o Nápoles a expor-se mais no San Paolo e esse "pormaior" pode fazer toda a diferença.