O Benfica de Jesus já sabia o que é perder um título nos descontos; agora usou o tempo extra para escapar ao castigo do Sporting e não deixar a liderança tão frouxa...
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Ao descobrir a baliza do Benfica a três minutos de se esgotar o tempo regulamentar (1-0), o Sporting celebrou efusivamente, encheu o peito e esqueceu-se de respirar. Julgando que, pela forma como controlara e, em crescendo, se superiorizara ao rival, o triunfo estava no bolso, não prolongou a concentração até ao derradeiro segundo do dérbi e levou um murro. É que quem já perdeu um título nos descontos também poderia ser feliz e defender uma liderança nos minutos suplementares - se não o pensou, Jorge Jesus podê-lo-ia ter feito, pois lançou Pizzi e ainda Derley para, à falta de imaginação e criatividade para desmobilizar o meio-campo leonino, despejar bolas na grande área, cruzar os dedos e esperar um abraço da sorte. Assim aconteceu, porque Jonas (principalmente) nunca desistiu da ideia de pontuar em Alvalade, mas também devido à precipitação do rival, que não soube defender: recuou em bloco e, em vez de insistir na raça e no jogo limpo nos duelos, entrou pelo caminho da infração. Na verdade foi só uma, cometida por Tanaka à entrada do meio campo defensivo, numa lance que, aparentemente, poderia ter tentado resolver de outra maneira, mas, ao sentir-se ultrapassado, decidiu parar o adversário em falta. A fatalidade, para o Sporting, principiou nesse preciso instante em que o japonês estendeu uma passadeira para o assalto do campeão nacional, que necessitou somente de um remate à baliza (Jardel, aos 90"+4") para pôr as redes a cantar... e o treinador a dançar no banco.
Entende-se o júbilo: o Benfica, que abordou o embate apontando claramente à hipótese de um xis no totobola, evitou a terceira derrota e arrancou um empate que, além de garantir quatro pontos de vantagem (sobre o FC Porto) no comando da prova e travar a escalada do Sporting, pode ser lido como bom prenúncio, uma vez que nunca venceu em Alvalade (duas igualdades) nos campeonatos conquistados no consulado de Jorge Jesus.
Era certo como o destino: sem tocar na configuração do 4x4x2, o treinador dos encarnados alterou a composição do meio-campo, mas, em vez de colar Pizzi a Samaris no coração do sector e colocar Talisca a pisar nas costas de Lima, decidiu abrir o armário das inovações e sacou de lá André Almeida para este fazer dupla com o grego no corredor central, atirando Talisca para suplente e mantendo Jonas como segundo avançado. Apostando, como gosta, no fator-surpresa, Jesus deu prioridade ao aço em detrimento da habilidade, num sinal de que o triângulo composto por William, Adrien e João Mário, no 4x3x3 do Sporting, era credor de respeito. Além disso, Lima e Jonas tinham de estar em constante ação sobre os centrais Paulo Oliveira e Tobias, para obrigar o Sporting a flanquear as saídas.
Do lado dos verdes e brancos, Marco Silva pôs em campos as armas que se adivinhavam, tentando aproveitar a capacidade de perfuração (vertical e diagonal) dos extremos para forçar desequilíbrios, mas foi com a virilidade exposta nos duelos que os da casa conseguiram inclinar o campo a seu favor, faltando-lhe, porém, pólvora no centro do ataque para explosões que ameaçassem Artur, pois Montero funcionava mais como pivô do que canhão. Cantos houve muitos (7-0 no fim da primeira parte), mas, falando de oportunidades claras de golo... a primeira ocorreu apenas ao minuto 71, num cabeceamento de Carrillo para defesa de Artur.
Quem tivesse menos medo de falhar ficaria mais perto de vencer. Jesus foi o primeiro a mexer na equipa, trocando Ola John por Talisca (65"). Uma substituição de risco zero. Marco esperou até aos 78" e rendeu Carrillo por Mané. Fresco, o português animou o ataque, numa fase em que o jogo se partiu um pouco, numa desagarrada para ver quem quebrava primeiro. Os técnicos preparavam-se para gastar as últimas fichas (entradas de Capel e Tanaka no Sporting, Pizzi no Benfica) quando Jefferson assinou o golo que enfeitiçou os leões. Sim, a incapacidade de segurar a diferença e castigar o campeão empancou o Sporting na distância (sete pontos) para o primeiro lugar com que arrancara para o desafio. A intenção de discutir o título palmo a palmo ficou gelada como a noite.