O Benfica só no segundo tempo se desembaraçou da teia que o Paços de Ferreira lhe montara e acabou por justificar a vitória, embalado por uma massa de adeptos que o fez sentir-se em casa
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Num ambiente de grande jogo de futebol, assim mesmo, o Benfica escreveu uma vitória justa e limpa, mas talvez mais complicada do que esperaria, principalmente, quem saiu entusiasmado do clássico com o Sporting, a começar pelos adeptos, que agradeceram a trégua de quem manda na chuva e pintaram de vermelho a nova bancada que dá ao Estádio Capital do Móvel um outro cenário, mais ao estilo de grande estádio, lotado como estava ontem... Os adeptos do Benfica foram mais (e mais barulhentos) do que os do Paços e as vitórias também se conseguem assim, com um valente empurrão de uma massa que faz um estranho sentir-se dono da casa alheia.
O Benfica começou a ganhar o jogo à chegada ao estádio que até há um ano se chamava Mata Real, e ficava tão bem assim, mas a indústria do futebol trai por vezes os sentimentos: um mar vermelho formado por gente aos gritos, a não controlar a ansiedade e a gritar "campeões"... Ainda falta um "bocadinho" para terminar o campeonato, mas o trajeto que o líder está a seguir parece realmente o mais correto.
Não que tenha sido fácil, ou que vá ser tudo muito fácil. Ainda ontem o Benfica teve de se aplicar para sair de uma teia que Henrique Calisto montou, com o muito que também sabe de futebol, e com a vantagem de nem ter enganado ninguém. O treinador tinha dito que o Paços de Ferreira ia jogar em contra-ataque e foi o que fez, com dois jovens velozes na frente (Del Valle e Bebé), ajudados por Fernando Neto, que tem um pé esquerdo de sonho e serve bem quem o acompanha. Mas mesmo este trio tinha por missão defender mais próximo do meio-campo e aí estava Seri a espreitar sempre o erro, e tantas foram as bolas que recuperou e usou depois para servir os companheiros de contra-ataque. No fundo, o Paços jogou compacto, concentrado, sempre solidário.
O Benfica deu-se muito mal com esta postura dos castores, embora talvez estivesse à espera dela. Tanto que foram mais os lances de relativo perigo criados pelos pacenses nos primeiros 45 minutos. Um facto que foi enervando, incompreensivelmente, os benfiquistas, que ficaram pelos cabelos com o árbitro, principalmente num lance em que Duarte Gomes deu a ideia de ir expulsar Flávio Boaventura mas fez marcha-atrás e amarelou Siqueira, que barafustou que chegou, é verdade.
A ausência de Enzo Pérez pareceu demasiado sentida por toda a equipa da Luz, essencialmente pouco criativa e sem encontrar os espaços certos para chegar à baliza de Matias Degra. Fê-lo uma vez com perigo, pouco, muito pouco...
Jorge Jesus deve ter conversado bastante com os seus jogadores ou então passou-lhes uma simples mensagem: velocidade, e foi com essa arma que os benfiquistas seguiram com os passos certos. O Benfica reentrou para o jogo como uma onda a crescer (e agora há tantas), não deixando o Paços de Ferreira respirar ou pensar sequer em como o fazer. A equipa de Jesus foi ganhando espaços em zonas mais adiantadas, confundindo as marcações que estavam a ser tão bem feitas pelo meio-campo pacense. E de uma falha de marcação, mas também resultado desse crescimento benfiquista, nasceu o golo de Garay, um potente golpe de cabeça que funcionou muito mais como um murro no estômago da equipa de Calisto. O golo provocou uma explosão de alegria tremenda, no banco benfiquista e nas bancadas, e logo aí se percebeu que seria muito difícil tirar o líder da cadeira confortável que Garay construiu para todo o conjunto.
Não muito depois, quando o Paços se tentava levantar, Markovic arrumou a questão. A equipa visitada até merecia o golo de honra pela forma como se portou na primeira parte, mas no segundo tempo Oblak não teve de defender uma bola, e isso diz bem da (in)capacidade da reação dos castores. O Paços tinha a mobília muito arrumada e elegante até um argentino lhe dar cabo de tudo.