Dragões tiveram uma dose de paciência extrema para passarem as linhas recuadas dos setubalenses, e por isso tiveram o direito à felicidade.
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Começou ainda com sol e terminou já noite fria e desagradável a difícil viagem dos dragões no autocarro superlotado, quase fora da lei, que viajou do Sado até ao Porto, carregado de esperança, esperança num pontinho que fosse, porque mais do que isso seria sempre demais. Os dragões tiveram de usar de uma paciência em doses brutais para não passarem mal, como tinha acontecido há tempos no jogo com o Olhanense, em que empatou num momento em que tinha a possibilidade de fugir ao Benfica. Ontem, o FC Porto não podia falhar, como não falhou, colocando assim um maior interesse no jogo que se realiza amanhã na Madeira. Foi duro? Duro e complicado, com uma grande penalidade falhada a atormentar ainda mais os espíritos, porque havia ainda um empate, mas o que de melhor o treinador tirou deste jogo foi mesmo o facto de a equipa não se deixar arrastar para debaixo do autocarro. Seguiu viagem para uma merecida vitória.
Havia tudo para um bom jogo, até uma plateia muito especial: cerca de três mil crianças que pertencem às várias escola Dragon Force encheram uma parte das bancadas, sempre animadas, sempre na esperança de verem os craques que hoje são os seus ídolos marcarem um golo. Pois é, pequenada, não é fácil, o futebol requer muita paciência, para quem defende e para quem ataca. Já se esperava um Setúbal à imagem do Olhanense, linhas recuadas, dois jogadores abertos nas alas, rápidos, mas sujeitos a uma missão também defensiva. Os avançados puros estavam sentados no banco. Mota entrou com um autocarro de dois andares e não deu uma boa imagem. Mas percebe-se, os argumentos são poucos e a luta pela sobrevivência é dura.
Claramente, os sadinos apostaram em elevarem a ansiedade dos portistas, que tinham forçosamente de ganhar. A ideia de carregarem de nervos o dragão até resultou, porque foi isso que aconteceu. Por causa desse nervosismo, os portistas caíram muitas vezes na teia sadina, mas também porque foram lentos nos movimentos, com e sem a bola, contribuindo involuntariamente para o êxito da estratégia do adversário. Os miúdos talvez não tenham percebido muito bem porque é que os adultos iam assobiando "os seus", mas isso aconteceu. A paciência tem limites, mesmo num adepto que não veja outra coisa na frente que não as cores do seu clube.
Para o intervalo, a equipa portista não saiu com palmas, regressou com a responsabilidade maior de resolver o assunto que se estava a tornar complicado. Mas nem sequer reentrou diferente. O V. Setúbal manteve-se sereno dentro do seu espaço (Helton não fez em todo o jogo uma única defesa digna desse nome) e a ansiedade foi retirando o discernimento aos dragões. Varela deu um sinal de maior atrevimento, Lucho lá se foi mexendo mais, Mangala e Danilo passaram a ser mais extremos do que defesas, e o assalto ao autocarro acabou por ter sucesso. Não sem antes passar por um percalço tremendo, o tal penalty falhado por James, que adiou o grito de golo dos pequenos e dos grandes. Ele mesmo, el bandido, lembrando Quaresma, fez o passe para Lucho, que passou a ser o comandante da alegria.
A justiça foi feita assim no meio de alguma atribulação. A vitória é escassa para o imenso trabalho ofensivo dos dragões, e nem se pode dizer que seja castigo para quem tanto (se)defendeu. Enquanto o V. Setúbal só espreitou o golo uma vez, o FC Porto encheu duas mãos de oportunidades. E assim teve todo o direito de ser feliz.
