Capitão chegou-se à frente >> Ronaldo, com uma segunda parte em que quis fazer a diferença, goleou Ibrahimovic, mas Portugal só por um golo bateu a Suécia, que merecia punição maior
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Fez a diferença quem tinha de fazer - e Portugal ganhou. Apenas por um golo, mas com a esperada assinatura do seu capitão, Cristiano Ronaldo. Qual foguete, a oito minutos do fim, a estrela que usa risco ao lado acorreu a cruzamento de Miguel Veloso para, sem medo de estragar o penteado com um cabeceamento em mergulho, dar à equipa das Quinas magra vantagem para a segunda mão do play-off do Mundial'2014. Ganhar sem sofrer golos foi positivo, mas deve-se salientar que esta Suécia, pobre em ambição, merecia dos homens de Paulo Bento um castigo maior - bastava que a bola cabeceada por Ronaldo e devolvida pela trave, aos 85', tivesse acabado no interior das redes. Faltou-lhes, porém, aplicar durante mais tempo a velocidade nas combinações ofensivas exibida na ponta final, período em que Ronaldo carregou os seus colegas para ser notícia por todo o mundo. E pese o alarido à sua volta, o sete português não teve um marcador personalizado a morder-lhe os calcanhares, pois a opção do selecionador sueco passou por uma estrutura compacta e virada para a redução de espaços, na qual todos o seguiam pelo canto do olho. Mas Ronaldo, especialmente após o descanso, abraçou a responsabilidade de ser ele a forçar ou a protagonizar o rasgo fatal, levando, de longe, a melhor sobre Zlatan Ibrahimovic no primeiro duelo dentro desta guerra de dois capítulos.
Quanto a Zlatan, diga-se, foi uma desilusão: tirando o lance em que, aos 20', abriu as pernas para Larsson rematar e oferecer a Patrício a possibilidade de realizar uma defesa vistosa, pouco mais fez. Pepe e Bruno Alves, com o auxílio de Miguel Veloso - que teve de se haver com Elmander -, não permitiram que Ibra fosse leão. Exceção feita a um par de lances em que, ainda no primeiro tempo, acusou algum desnorte e desorientação nos posicionamentos, a organização defensiva lusa esteve quase impecável a controlar e a anular os caminhos por onde Larsson (sobretudo este) e Kacaniklic poderiam romper para servir a principal referência do ataque.
Com as bancadas a gritar por socorro de tão cheias que estavam - e aí os lusitanos venceram por esmagamento, 59 mil contra dois mil -, as gargantas afinaram-se no apoio a Portugal. Usando o 4x3x3 mais rodado na fase de grupos, a equipa nacional mexeu-se bem nos primeiros instantes e inclinou-se para a direita, por onde entravam Nani e João Pereira, criando então a ideia de que poderia amassar a Suécia. Moutinho chegou a ter o golo nos pés, mas assustou-se com a sombra de Isaksson e desaproveitou uma ocasião ótima para, logo aos 5', agitar o resultado e empurrar as Quinas para o conforto do contragolpe, pois os suecos seriam forçados a responder.
Havia dúvidas sobre se Meireles seria capaz de ser uma unidade intensa e quanto tempo aguentaria no jogo, uma vez que estava sem competir há semanas devido a problemas físicos. Surpreendentemente, o médio do Fenerbahçe até foi o elemento mais dinâmico do sector na abertura do encontro, destacando-se essencialmente nos movimentos de pressão quando os suecos procuravam estender-se. A condição de João Pereira e de Coentrão também configurava um enigma, e se o primeiro esteve melhor no primeiro tempo, o segundo agigantou-se após o intervalo, lucrando com as deambulações de Cristiano Ronaldo, que alargou o seu raio de ação: em vez de se movimentar pela esquerda ou pelo meio à espera de ser servido pelos colegas, o capitão passou a ir ao encontro da bola, chamando-a a seus pés, com o intuito de criar desequilíbrios individuais, arrancar faltas ou, muito simplesmente, inquietar uma defensiva nórdica que se veria em trabalhos apertados a partir dos 66'. A entrada de Hugo Almeida, por troca com Postiga, alterou as características do ataque português: mais físico, o ponta de lança do Besiktas criou embaraços a Pier Nilsson e Antonsson.
Replicando o 4x4x2 mais visto na fase de grupos, Erik Hamrén pediu a Elmander para preencher espaços nas costas de Ibrahimovic, tentando aí emperrar e perturbar as tarefas de Miguel Veloso no arranque dos lances ofensivos de Portugal, mas, ao mesmo tempo, o segundo avançado era quase um quinto médio, cenário que se acentuou após o intervalo. E com as substituições que fez - trocas diretas no miolo do meio-campo e, a perder por 1-0, avançado por avançado -, Hamrén, diga-se, passou para dentro de campo mais vontade de perder do que vontade de marcar um golo na Luz. Portugal agradeceu e viaja agora para Estocolmo com a certeza de que, concentrada, estará no Brasil.