Com posicionamentos e papéis reajustados no 4x4x2 (ou 4x1x3x2...), o Benfica amarrou-se, pressionou, marcou e (co)mandou num clássico em que do FC Porto só se viram fogachos
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Porventura com pressa de limpar ou de corrigir a imagem de desacerto geral deixada no relvado da Luz durante o primeiro tempo, a equipa do FC Porto foi lesta a regressar dos balneários após o período de intervalo, mas a sôfrega intenção de responder à vantagem de um golo esculpida pelo labor do Benfica nem cinco minutos durou. Faltava clareza e segurança à circulação de bola do 4x3x3 de Paulo Fonseca, incapaz de desenhar lances que apoquentassem Oblak, cada vez mais sólido na defesa da baliza dos encarnados - ontem, Artur aqueceu banco -, ou que perturbassem a especial arrumação dada por Jorge Jesus ao 4x4x2, que na maioria do tempo foi mais um 4x1x3x2 (em ataque) ou mesmo um 4x1x5 (a defender). Fintando as previsões, o treinador das águias deixou na gaveta o plano que pressupunha a utilização de três médios-centro e apostou fichas na estratégia de concentração da tática mais utilizada em cinco temporadas, na qual foram determinantes os papéis de Markovic e Gaitán (pisando frequentemente zonas interiores), a intervenção de Enzo Pérez (incansável nos movimentos de pressão) e os desempenhos de Lima e Rodrigo (recuando e posicionando-se no meio campo defensivo quando o adversário tentava sair). De cinto bem apertado, compacto e chegando os pés ao acelerador, o Benfica superiorizou-se quase como quis. A facilidade e o à-vontade com que desenhou o primeiro golo do clássico, assinado por Rodrigo ao minuto 13, disseram muito sobre a competência dos visitados e a incapacidade dos azuis e brancos. À oitava tentativa, e passados mais de quatro anos, o Benfica tornou a vencer um clássico de campeonato ao FC Porto e, fruto disso, isolou-se na liderança da prova, sendo o campeão da primeira volta.
Com Lucho e Carlos Eduardo um pouco mais ativos e dinamizadores após o 1-0, os dragões procuraram ter iniciativa, mas o melhor que conseguiram foi denotar... intranquilidade em face da pressão alta que os jogadores do Benfica muitas vezes tiveram engenho e pernas para executar, abafando a tímida atitude reativa dos portistas. Nesta fase, depois de Carlos Eduardo ter forçado uma brecha na defensiva encarnada ainda antes do golo de Rodrigo (9'), num dos poucos momentos em que os anfitriões foram passivos, o FC Porto reduzia praticamente a sua atividade ofensiva à cobrança de livres laterais, que apenas testavam a qualidade da cola das luvas de Oblak. A agressividade positiva, na equipa portista, subiu um nível após a meia hora, já Fernando usava botas novas, mais próprias para o piso que a chuva tornou escorregadio. Mas quem estava absolutamente confortável no jogo era a equipa do Benfica, que fechava bem, encurtava espaços e agradecia perdas de bola, quando não era ela mesma, coesa e a funcionar em bloco, que as provocava.
Tirando um lance a finalizar a primeira parte no qual Jackson (em fora de jogo... não assinalado), com a baliza à mercê, emendou para fora um centro de Licá, o FC Porto, somando passes errados, não conseguiu criar uma oportunidade de golo flagrante. Em larga medida porque não teve intensidade nem criatividade no seu jogo, assustando-se e encolhendo-se perante o vendaval de determinação que lhe soprava na cara, e também porque o Benfica, com Matic, em tarde de despedida, a varrer os lances entre a cortina defensiva e a segunda linha de meio-campo, nunca ou quase nunca se desuniu, muito menos fugiu das ideias táticas cozinhadas para este clássico que também homenageava a memória de Eusébio.
Da forma como carburava, o Benfica, sentia-se, estava mais perto de dilatar a diferença do que de sofrer a igualdade. E o segundo golo surgiu aos 53', num lance de bola parada (canto) em que houve mérito de Garay a rasgar, mas também falha de Mangala e ainda de Helton na oposição ao cabeceamento. Quaresma entrou logo a seguir no FC Porto e... o clássico aqueceu, com empurrões e entradas mais duras a testarem o critério disciplinar de Artur Soares Dias, que foi excessivo na expulsão de Danilo, aos 75'. Esboroou-se aí a derradeira tentativa de réplica dos dragões, que já se movimentava com Josué no lugar do desgastado Lucho. O primeiro sinal de rendição foi imediato, ao ser abortada a aposta em Ghilas, que estava pronto, junto à linha lateral.