Melhor entrada da época arruma a questão no estádio onde o Benfica perdeu pontos pela última vez. Campeão carregou à espera da escorregadela que dê significado a um sprint que só parece pecar por tardio...
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Desta vez sem rodeios, o FC Porto ligou o turbo na Choupana, onde o Benfica derrapou pela última vez. O gás que faltou, então, para a ultrapassagem (os campeões empatariam, nesse mesmo dia, com o Olhanense) saiu ontem da reserva para um triunfo que dispensa alusões fáceis à metáfora das limpezas, mas que se pode ilustrar por outra famosa tirada de Vítor Pereira e que por alturas do 0-0 em Alvalade até saiu como crítica: o dragão foi com muita sede ao pote. Tanta que a meio da primeira parte já James, Mangala e Lucho tinham molhado o bico, num arranque que deixou o Nacional sem fôlego e sustentou um resultado que nem o penálti de Candeias conseguiu ameaçar. Foi a melhor entrada da temporada para os portistas, que carregaram para pressionar a escorregadela do líder e assim forçar um sprint que, de outra forma, não se livrará do rótulo de tardio.
Com Mangala a fazer de Alex Sandro num corredor todo retocado para receber Varela de volta, o FC Porto meteu velocidade e escolheu um alvo: Nuno Campos. Manuel Machado sinalizou o lateral júnior quando o lançou para a primeira titularidade - tinha feito o mesmo com Jota nos 0-3 da Taça de Portugal -, em detrimento do calejado Claudemir, mas é justo reconhecer-se que quando o "debutante" tremeu pela primeira vez, aos 10', já os dragões contavam três avisos de golo.
Foi, porém, com o deslize do elo mais fraco, pressionado por Varela num lançamento a favor do Nacional, que o FC Porto desbravou o caminho para a baliza, repetido por Mangala, num lance tão tecnicamente caprichado que só mesmo a costumeira minudência dos fanáticos das repetições pode beliscar. Troque-se a arte de todo o desenho por uma rudimentar linha de fora de jogo e discuta-se o acessório em vez do essencial: Mangala é, a par de Jackson, a melhor coisinha que aconteceu ao campeão esta temporada...
Com Varela agradecido às sessões terapêuticas à base de imersão na bancada e jatos de banco, o FC Porto meteu o Nacional num bolso e abriu o livro de soluções. Multiplicou linhas de passe, meteu velocidade entre os médios, envolveu Jackson na construção de jogo e ainda contou com as bolas paradas para entrincheirar o adversário na sua área, encostado às cordas para um KO que chegou de penálti, uma arte que também se arrisca a ter aparição serôdia, depois dos dois pontapés mal dados que cavaram o precipício na classificação.
Depois de meia parte a todo o gás, o FC Porto desligou o turbo, levou o tal penálti contra que constava do livro de reclamações do campeonato e voltou ao ritmo desejado sem qualquer perturbação. É que o Nacional tinha um fosso para saltar entre os médios e os avançados, chegando a ser penoso o dilema de Moreno, Aly Ghazal e Jota entre o encaixe na desesperada defesa e a colagem aos ilhéus da frente. Machado quis contornar distâncias com Claudemir, o vaivém para o meio-campo, e Keita, o ponta de lança que saberia receber e esperar.
Houve, então, uma aparição do Nacional que o FC Porto reprimiu como e quando quis, ficando a dever a si próprio um resultado mais carregado, mas que, por mais que enchesse, nunca deixaria de correr o risco de se esvaziar já amanhã, quando o Benfica receber o Estoril para ganhar o "match point" para o Dragão
