Piris a lateral e Eric Dier como trinco eram remédios óbvios; onde o treinador do Sporting arriscou para tentar apanhar o Benfica na curva foi nas estreias de Heldon e da utilização simultânea dos goleadores
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Meia hora antes de parte do revestimento da cobertura do Estádio da Luz ceder e levar ao adiamento do jogo, a primeira notícia sonante do dérbi foi o onze-surpresa delineado pelo treinador do Sporting, o qual, numa primeira leitura, sugeria algum arrojo tático, em busca de uma vitória que valeria ultrapassar automaticamente o adversário direto e a liderança isolada do campeonato. Sem Jefferson (lesionado) nem William (castigado), Leonardo Jardim, como se adivinhava desde o início da preparação do encontro, optou por um caminho conservador e de respeito pelo equilíbrio da organização da equipa menos batida na prova e decidiu lançar Piris e Eric Dier para remediar os rombos na lateral esquerda e na posição mais recuada do meio-campo. Até aqui, nada de extraordinário. A medida de maior impacto (teórico, pelo menos), com implicações na variação do crónico 4x3x3 para um 4x4x2... parecido com o do rival, reservou-a para a zona ofensiva, apostando pela primeira vez na titularidade simultânea dos pontas de lança Slimani e Montero, além de estrear Heldon, o extremo matador - com nove golos, o ex-maritimista tem mais tiros certeiros na I Liga do que qualquer jogador do Benfica.
Uma vez que Eric Dier, central de raiz, não tem tantas rotinas competitivas no meio-campo nem as características que fazem de William o primeiro gestor e acelerador do futebol do Sporting, a ideia de Jardim era confiar ao luso-britânico uma dupla função, ajudando Maurício e Rojo a haverem-se com os avançados Lima e Rodrigo e, paralelamente, em ataque, apoiar os movimentos de Adrien, o médio multifunções ao qual, neste tipo de embates, mais se exige em termos de equilíbrios e de dinâmica para o coletivo. No desenho elaborado pelo técnico leonino, André Martins também tinha um papel diferente do que é costume - até um pouco híbrido, na medida em que descairia para a direita, mas sem ignorar a zona interior da intermediária, nomeadamente nas ações ofensivas, para arrastar Gaitán e deixar o flanco livre para as correrias de Cédric, o lateral com vocação mais ofensiva.
Heldon contra a seca
e, claro, Cardozo no banco
Rompendo pela esquerda, Heldon era uma das apostas de risco, merecendo a titularidade ao fim de uma semana de trabalho na Academia - nunca Jardim puxara tão depressa de um reforço de inverno. Mas a intenção do treinador também saltava à vista: dar mais hipóteses de golo à equipa numa fase em que Montero anda há sete jogos a tentar acertar nas redes. Na frente, a Slimani, agora que se encontra fisicamente a cem por cento, estava destinado ser a principal referência de ataque, com Montero a pisar, desta feita, um pouco mais atrás, nas costas do argelino, à semelhança do que faz - e iria fazer - Rodrigo no onze do Benfica, escalado para emparceirar com Lima no ataque. Confirmava-se assim, no lado dos encarnados, a condição de suplente de Cardozo, ele que ainda procura a melhor forma, depois da paragem forçada de quase três meses devido a uma lombalgia aguda.
Ao contrário de Jardim, Jorge Jesus recheava o seu 4x4x2 com os elementos que já eram adivinháveis há uma semana, ou depois da estrutura apresentada a meio da semana frente ao Penafiel, na partida em que as águias asseguraram o apuramento para as meias-finais da Taça de Portugal: Fejsa e Enzo Pérez eram o coração do meio-campo, com o acelera Markovic na direita e o criativo Gaitán na esquerda da intermediária. Atrás, com Oblak na baliza, de luvas calçadas para o seu primeiro dérbi, Siqueira confirmava o retorno à lateral esquerda, depois de cumprir um jogo de suspensão. No eixo defensivo, Luisão tinha a seu lado Garay, cuja contratação está a ser tentada pelo Zenit, que, em face do adiamento do dérbi para as 20h15 de amanhã, só na quarta-feira poderá voltar à carga - a proposta de dez milhões de euros, mais o passe do central Neto, já foi recusada pelo presidente das águias.