Em 2004, José Mourinho surpreendeu pela forma atrevida como se apresentou no Chelsea, reclamando os créditos de ser o campeão europeu. Agora, mais maduro, salientou sobretudo, e de forma insistente, a felicidade que o acompanha neste regresso a Londres
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José Mourinho foi ontem oficialmente apresentado à Imprensa como novo treinador do Chelsea, uma semana depois de ter assinado por quatro épocas. Falou 50 minutos aos jornalistas e, apesar de ter demorado a mostrar sorrisos, falou inúmeras vezes em felicidade. Revelou a ambição de sempre, mas foi bem mais contido e comedido do que há nove anos, quando se autointitulou Special One e conquistou a Imprensa.
Está de regresso ao Chelsea: ainda se sente o Special One?
Sou o "happy one" [o feliz]. O tempo voa, parece que foi há uns quantos dias, mas já passaram nove anos desde a primeira vez que vim para o Chelsea e desde então aconteceram imensas coisas na minha vida profissional. Tenho a mesma natureza, sou a mesma pessoa, tenho o mesmo coração e o mesmo tipo de emoções em relação à minha paixão pelo futebol e pelo meu trabalho, mas, claro está, sou uma pessoa diferente. Se tivesse de me descrever, diria que sou uma pessoa muito contente e feliz. Esta é a primeira vez que chego a um clube que já adoro; antes, tive primeiro de construir uma relação emocional e só mais tarde passei a amar o clube.
Acredita que pode ter ainda mais sucesso que na sua primeira passagem?
Quero acreditar que é possível e acredito sempre no meu trabalho. Neste caso, conheço muitas pessoas que pertencem ao clube e conheço a mentalidade e a ambição que essas pessoas têm. A minha carreira foi construída e cresceu com o sucesso. Em todos os clubes por onde passei, atingi o êxito, ganhei troféus e deixei diferentes tipos de legados. Tenho de acreditar nisso. Se trabalharmos bem, normalmente o sucesso chega.
A sua relação com Abramovich, dono do Chelsea, rompeu-se aquando da sua saída?
Li que tinha sido despedido e que a nossa relação tinha sido completamente quebrada; isso não é verdade. Naquele momento decidimos que a separação era o melhor para as duas partes. Foi uma decisão difícil para ambos, mas tomada de mútuo acordo. Nunca houve um corte de relações e é por isso que me é possível estar aqui hoje. Estou de volta porque pensamos que estamos no melhor momento das nossas carreiras - eu como treinador, ele como dono do clube - e preparados para trabalharmos de novo juntos, em melhores condições desta vez, e alcançarmos o sucesso que o clube persegue, que é a estabilidade. Queremos todos o mesmo. Temos a mesma visão e estou mais do que feliz por estar de volta.
Regressa por se sentir confortável?
Não escolhi uma posição confortável porque estou de volta a uma casa onde fui feliz e bem-sucedido e onde os adeptos me amam. As expectativas são muito elevadas, porque as pessoas sabem aquilo que posso dar. Quero ser respeitado pelos feitos do passado, mas também por aquilo que alcançar agora.
Como designaria este novo período?
Se tivesse de escolher uma alcunha para este período, chamar-lhe-ia o período da felicidade. Estou muito feliz. Estive dois anos no Inter e três no Real Madrid; cinco anos numa carreira de treinador é muito tempo. O futebol é uma indústria onde se aprende muito sobre nós próprios todos os dias. Quando comecei a minha carreira, em 2000, pensava que sabia tudo, mas passados 13 anos percebemos que não sabemos nada e que temos de aprender todos os dias. As minhas aventuras pela Europa foram fantásticas para mim. Diferentes países, diferentes culturas, diferentes meios de comunicação; foi fantástico. Aos 50 anos, julgo que ainda sou um treinador novo e penso que este é o início de um novo período. Se tenho uma personalidade diferente? Não, mas tenho de certeza uma perspetiva e forma de encarar as coisas diferente.
