Águias seguem "vivas" >> Apesar dos sucessivos erros da defesa, o Benfica "marcou" em dois campos aos 90 minutos e acabou por ter a noite europeia que Jorge Jesus desejou
Corpo do artigo
Os sintomas mantêm-se lá, o que quer dizer que a doença ainda não está curada. Apesar disso, as vitórias sucessivas ajudam a maquilhar a cor pálida deste Benfica, que sofre para ir vencendo os seus jogos, chamem-se os adversários Braga ou Anderlecht, seja a prova o campeonato português ou a Liga dos Campeões. As águias venceram um adversário que só a boa vontade de Jorge Jesus pode colocar entre a elite europeia. OK, isto é a Champions, mas o Anderlecht está longe de ser de Champions. Por isso, não pode deixar de ser preocupante para os encarnados que os problemas do costume se repitam: cada canto ou cruzamento do adversário foi uma aflição defensiva e, sem Cardozo, a equipa foi quase sempre inofensiva no ataque. Quem não viu o jogo até pode pensar que os números contrariam esta última tese, já que a equipa lisboeta até marcou três golos. Pois bem: um foi de bola parada (e a aproveitar um enorme erro de marcação), outro foi autogolo, outro foi num contra-ataque já à entrada dos descontos. E, de resto, o guarda-redes Proto até acabou por ter uma noite de pouco trabalho...
Ficam os factos: o Benfica venceu - e em dois campos. Tudo correu de acordo com os desejos formulados na véspera por Jesus: derrotou o Anderlecht e o PSG fez a sua obrigação frente ao Olympiacos. Em estádios separados por mais de 300 quilómetros, os golos decisivos foram apontados aos 90 minutos, num momento de alinhamento cósmico que juntou Rodrigo e Cavani na mesma equipa, resgatou o Benfica a um futuro certo na Liga Europa e permite-lhe ainda sonhar com os oitavos de final da Champions. As contas estão longe de estar famosas, mas também não são uma hipótese meramente poética: na última jornada é preciso fazer diante do PSG um resultado melhor do que o Olympiacos em casa com o Anderlecht.
Num jogo que, tal como o próprio Jesus o admitiu, se jogava de olhos em dois objetivos, o Benfica foi fiel ao esquema que tem usado desde que redescobriu Rúben Amorim. Como o médio português está lesionado, o técnico deu a Fejsa os primeiros minutos de águia ao peito em quase dois meses - não jogava desde que se lesionou na partida com o PSG. Matic subiu ligeiramente no terreno, enquanto o flanco direito ficou entregue a Enzo Pérez e Markovic: em situação de ataque, o sérvio fugia para o meio e surgia no apoio a Lima; quando a equipa perdia a bola, encostava-se à direita e o incansável Pérez ajudava Matic e Fejsa na luta no centro do terreno.
O Anderlecht marcou primeiro, aproveitando a segunda vaga após um canto, num lance em que Luisão não fica muito bem na fotografia. Mas como o campeão belga também não é exemplo de solidez ou qualidade para ninguém, ofereceu o empate ao Benfica, usando os olhos para fazer a marcação a Matic (e Luisão e Garay...), que empatou após livre lateral de Enzo Pérez. O intervalo chegava com 1-1, resultado que se justificava pela incompetência defensiva de ambas as equipas e que nos avisava a todos: iria haver mais golos.
Primeiro para o Benfica, na sequência de um grande momento de Gaitán. Depois, para o Anderlecht, num movimento simples entre o lateral e o extremo-direito que apanhou toda a defesa encarnada a dormir. Com 2-2 e 13 minutos (mais os descontos) para jogar, a balança começou a inclinar-se para o lado dos belgas, que ganhavam sucessivamente bolas pelo ar no ataque. Jorge Jesus hesitou entre tentar segurar o empate que lhe garantia a Liga Europa ou procurar a vitória que lhe alimentaria a Liga dos Campeões. Chamou e deu instruções a Ivan Cavaleiro, mas acabou por lançar Rodrigo em campo. E no lugar de Enzo Pérez, numa clara indicação de que tinha optado pela segunda via. O Anderlecht ia apertando à frente, mas descuidando-se cada vez mais atrás. E, aos 90', praticamente na primeira vez em que os belgas perceberam que estava em campo, Rodrigo respondeu ao passe de Sulejmani com uma corrida apontada à baliza e resolveu a favor do Benfica.
O Benfica cumpriu a sua obrigação e conseguiu a segunda vitória nesta edição da Champions - ambas sobre uma equipa que, apesar do empate em casa de um desleixado PSG, teria dificuldades para passar a fase de grupos... na Liga Europa. Mas as águias voltaram a mostrar os mesmos erros de jogos anteriores e que as deixaram nesta posição, à espera das ajudas de PSG e, a partir de agora, do Anderlecht. A verdade é que, apesar de terem ficado num grupo acessível, o mais certo é que os encarnados acabem por ir jogar para a Liga Europa. Nesta altura, é o lugar que merecem.