Mané e Slimani querem o onze. Extremo e avançado tiveram pesos diferentes na vitória de um Sporting eficaz sobre um Marítimo que ainda deu luta e fazem xeque a Wilson Eduardo e Montero, respetivamente, no xadrez do treinador.
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Leonardo Jardim é um treinador que mede cada palavra antes de a proferir e, no banco, o padrão que temos dele é o de um profissional calmo, vigilante e fornecedor de indicações cirúrgicas. Sorri pouco, ninguém pode contrariar este retrato, mas solta-se e é expressivo quando a sua equipa põe as redes da baliza adversária a cantar a música que mais gosta de ouvir - a do golo. Mas ontem, depois de Carlos Mané furar por entre João Diogo e Heldon e, de pé direito, assinar o golaço que lançou o Sporting para o triunfo (3-0) sobre o Marítimo na segunda jornada da fase de grupos final da Taça da Liga, o técnico celebrou muito mais do que um tiro certeiro na baliza; festejou o resultado de uma aposta planeada, sustentada e progressiva num miúdo de 19 anos, moldado na mesma formação de onde emergiram extremos como Cristiano Ronaldo ou Figo, para citar apenas os galardoados com Bolas de Ouro. De polegares no ar, antes de conferenciar com Bruno de Carvalho sobre o que ambos acabavam de presenciar, Jardim fitou Mané e confirmou-lhe que é aquilo mesmo que ele quer; é daquela capacidade de ir "para cima deles", rasgar e desarticular um adversário que a equipa andava necessitada há (pelo menos) três jogos, todos empatados a zero. Colado preferencialmente à esquerda do 4x3x3 para estender as ofensivas com Jefferson, o puto demonstrou que um lugar no onze, ultrapassando, por exemplo, Wilson Eduardo, já não é areia a mais para ele, razão pela qual até teve direito a "espera" do presidente no fim do primeiro tempo, à entrada para os balneários.
Mané não foi o único a dizer que quer um lugar no onze titular do Sporting. Slimani, outra vez titular na Taça da Liga - Montero foi suplente e desta vez nem entrou -, é outro dos inconformados por figurar habitualmente entre os elementos de segunda linha. O calmeirão argelino não marcou, mas, além de cheirar o golo por umas quantas vezes, tornou evidente que, sendo o seu forte o jogo aéreo, a bola também não lhe queima nos pés. Como se costuma dizer, sabe jogar à bola, pese a aparência um pouco desengonçada. E a prova de que já ameaça o até intocável Fredy Montero está na forma como se envolve na manobra coletiva. Foi dos pés dele que principiaram os primeiros dois golos do Sporting, embalando Adrien para servir Mané no 1-0 e lançando Capel para assistir Vítor no 2-0. E por falar de Vítor, eis aqui um jogador que não foi tão feliz a aproveitar a noite de oportunidades: até acertar na baliza, pareceu meio envergonhado e ausente, não transmitindo à equipa a energia e a dinâmica que André Martins costuma emprestar no papel de terceiro médio-centro ou apoio frontal do ponta de lança de referência.
Não se julgue, no entanto, que este desafio foi fácil para o Sporting. Se se queixou da falta de eficácia nas partidas anteriores, desta feita pode abrir garrafas de champanhe e festejar à grande. Por volta dos 25 minutos, a equipa verde e branca, em consequência do abaixamento da intensidade da pressão e da velocidade da circulação de bola, viu-se em apuros por conta dos disparates cometidos pelos centrais Rojo (29') e Eric Dier (39') - e até uma grande penalidade foi reclamada pelo Marítimo. Valeu aos leões, nesses e noutros momentos do desafio, o acerto de Marcelo, que foi valente e afortunado a trancar a baliza.
Sempre em 4x2x3x1, os insulares não se renderam após encaixar o 2-0 aos 49' e fizeram o suficiente para marcar um ou dois golos, tal a permeabilidade acusada ontem pela linha defensiva leonina, na qual Cédric foi o elemento mais certinho do início ao fim. Os leões abanaram atrás, pelo ar pelo chão, mas não cederam, elevando para oito o número de jogos seguidos sem que a bola beije as suas redes.
Preocupado com a condição física de Capel, e após trocar breves palavras com o espanhol, Jardim abriu a porta às substituições e puxou a equipa para o plano de conforto que lhe tinha fugido de forma clara a seguir ao 2-0. Carrillo (na direita) e Magrão (como interior-esquerdo em vez do desgastado Adrien) conferiram estabilidade e solidez ao conjunto, que também se foi compactando, unindo linhas. Feito o trabalho de reequilíbrio que desmoralizou os insulares, os de Alvalade partiram em busca de mais golos que podem ser decisivos na classificação final, mas só conseguiram um, por Rojo, em mais um canto batido por Jefferson.