Pódio do campeonato fechado com exibição em ritmo fúnebre e que só espevitou com a entrada do colombiano, mas que não dispensa revolução
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Contas de campeonato fechadas para o FC Porto com a confirmação de um impensável terceiro lugar que, mais do que o potencial prémio do acesso à Champions, dita a condenação a que o dragão foi sujeito por uma época tenebrosa. A vitória, que teve mais golos do que futebol, chegou com as senhas de Quintero, o eterno suplente a quem os treinadores se encomendam sempre que é preciso desbloquear o futebol em código que parece ser a marca desta equipa. Foi o colombiano a dar o mote, mas já depois do adeus, emergindo da marcha fúnebre que provavelmente acompanhará este plantel até ao fecho de uma penosa temporada.
Sem Fernando e Quaresma, o FC Porto até teve uma entrada muito forte, à boleia de boas arrancadas de Varela e de aparições de Herrera à entrada da área, onde se abria carreira de tiro para a baliza de um sólido Ederson. Só que desse arranque promissor até uma apatia confrangedora foi um instantinho, sobretudo porque o dragão ficou refém de um conjunto de duplos promovidos aos papéis principais. O plantel portista é chão que já deu uvas, não se vislumbrando botes que cheguem para levar alguns destes jogadores até à próxima temporada. Para muitos, e alguns mostraram ontem o que (não) valem, o naufrágio é certo.
Um Rio Ave que faz do campeonato um intervalo das festas das Taças bastou para expor o FC Porto às suas misérias. Hassan começou a esticar a equipa até à baliza de Fabiano, levando as linhas que o serviam a reboque e bloqueando, por outro lado, um adversário que escolhe sempre as mesmas rotas e que tem défice de maturidade a meio-campo. Herrera e Josué, sobretudo, chegaram a ser risíveis, congelando as saídas para o ataque e contaminando a lucidez dos que ainda a mostravam. Isso veio à tona quando, em três minutos, Josué, Mangala e Alex Sandro perderam as estribeiras e acumularam amarelos absurdos, ilustrativos de uma equipa que tenta compensar com as emoções um flagrante défice de razão.
Com Jackson de braços caídos, Ricardo fora de cena num filme que não é dele e Ghilas já no lugar de Varela, o FC Porto só tinha uma forma de espevitar o velório. Josué (que jogara para ele próprio, sempre à procura de passes bonitos) ficou obviamente no balneário, avançando Quintero, qual "hacker" num sistema com vírus que é preciso pôr a funcionar. O colombiano até pode ter momentos mais complicativos, mas é como um arrumador num parque sobrelotado: encontra sempre espaços. Foi o que fez na origem do 1-0. E no 2-0. E até na falta que sofreu para o fecho do marcador. Quintero pintou a manta, alimentando a corrida folgada de Jackson para agarrar o título que falta (melhor marcador), servindo Herrera para o golo que lhe permite fingir que até jogou bem e esticando o resultado para uma margem exageradíssima e que não colhe com o que foi o jogo.
Na confirmação do bronze, ficou então mais um vislumbre de que o FC Porto teve durante toda a época o ouro guardado, mas também a certeza de que há muita bijuteria no plantel. Cantada a senha para a Champions, paira no ar a sensação de que está também dado o mote para uma revolução na equipa.