Portugal voltou a ganhar à Suécia e vai estar no Mundial do Brasil. Neste play-off o capitão assumiu-se como comandante e fez quatro golos, três ontem
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Três grandes golos de Cristiano Ronaldo conduziram Portugal ao Mundial do Brasil e consagraram-no como verdadeiro comandante da Seleção Nacional. Após a estranheza que foi ver uma equipa com a qualidade que esta tem (ou pode ter, porque às vezes faz coisas sem sentido...) condenada a disputar o play-off, o capitão assumiu as rédeas dentro do relvado, marcou um golo na Luz e fez mais três em Solna. Uma noite de sonho a justificar todas as ilusões de quem o tem na fileiras, não para provar o que quer que seja, mas para desfrutar da qualidade ímpar que exibe em campo, na postura, no querer e nos golos, até quando se transformam em encobridores de pequenas insuficiências coletivas, como aconteceu ontem. Fez o primeiro golo para acalmar as tropas, o segundo para garantir a presença no Brasil depois de uma inexplicável tremedeira defensiva, e o terceiro para se coroar como um dos grandes da história. Não da história deste jogo ou do play-off, mas sim da história do futebol. Um dos melhores de sempre. E queria tanto estar no Brasil que seria capaz de se oferecer para pilotar o avião.
Num jogo em que era preciso controlar o ímpeto sueco e contra-atacar a toda a força, Paulo Bento causou meia-surpresa ao optar por Hugo Almeida como referência na área em vez de Hélder Postiga, que liga mais os sectores mas perde no contacto físico. Para além da óbvia ajuda nas bolas paradas defensivas, a corpulência de Hugo Almeida deveria servir para segurar a bola e ajudar a abrir buracos por onde Cristiano pudesse entrar e resolver. A utilidade da aposta seria comprovada não só no lance do 2-2, em que teve participação ativa, como na luta dada aos centrais suecos. Estranha mesmo foi a postura da Suécia no primeiro tempo. Mesmo apresentando a equipa esperada, manteve-se demasiado na expectativa, receosa, ciente de que quanto mais se abrisse mais riscos correria. Houve até um lance caricato em que Pepe parou a bola no meio-campo de Portugal e esteve uns segundos a olhar sem que alguém fizesse um gesto para o desarmar. Em desvantagem desde o jogo de Lisboa, a equipa sueca mantinha-se acantonada atrás da linha divisória.
A organização de Portugal, com as linhas a jogarem juntas, fazendo uma pressão notável sobre a bola, mesmo demorando bastante até começar a engrenar o contra-ataque, não permitia veleidades à Suécia, que não dispôs de uma ocasião de golo na primeira parte. Nesse período, mesmo carregando a sério apenas no último quarto de hora, a formação portuguesa construiu ocasiões suficientes para ir para intervalo em vantagem, mas não aconteceu, mantendo-se o jogo num equilíbrio indesejado, ainda que para ambos.
Depois de 45 minutos de controlo, Portugal tinha de contar com a reação sueca, mas uma defesa de Rui Patrício logo a abrir a segunda parte pareceu servir de mote para Cristiano Ronaldo abrir o marcador, na sequência de um passe mortífero de João Moutinho, outro gigante em campo, beneficiando da ajuda de Meireles a Miguel Veloso para dispor de alguma liberdade que lhe permitia desenhar passes de rotura, como aconteceu nos lances dos primeiro e terceiro golos lusos. Na retina ficou, pela negativa, o golo sofrido de canto e que abanou/abalou a equipa. Ibrahimovic saltou, Bruno Alves ficou pregado ao solo e a bola entrou. Se a missão de Bruno Alves era estorvar, faltou a ajuda, se era disputar o lance nas alturas falhou ele e quem deveria estar encarregado do estorvo, pois é com dois que se abate um gigante: uma para a bola o outro para prejudicar a ação.
A Suécia abdicara do trinco ao intervalo, fazendo entrar um médio ofensivo (Svensson), e sentiu-se legitimada a carregar, assumiu a necessidade de correr riscos e até conseguiu colocar-se em vantagem num livre despropositado, concedido à entrada da área, mas a equipa estava ferida no coração. De cada vez que Ronaldo cavalgou pelo campo fora para fazer os golos - e podiam ter sido mais - a porta estava aberta pela ausência de Elm. Quem corre riscos sabe que o tiro pode sair pela culatra, mas sem arriscar não se chega a lado algum.
O acerto da troca de Meireles por William Carvalho ajudou ao reequilíbrio de forças no miolo, deixando a equipa portuguesa novamente numa posição de controlo total. Um grupo de trabalhadores especializados a garantir que o génio de Cristiano Ronaldo fazia o resto sem novas surpresas. Poderia até ter havido mais golos, mas em jogos a eliminar a soma das mãos vale mais do que tudo.
Portugal não devia ter sido sujeito a disputar este play-off, mas que se autoflagelou e condenou a jogá-lo, ao menos usou-o para fazer uma demonstração de força e categoria. Esta é a equipa que os portugueses querem ver no Brasil.