Bruma vestiu-se de lateral-direito e o Sporting carregou sobre o Nacional com Capel, Labyad e Viola no apoio a Van Wolfswinkel, mas o salvador foi outro e chegou pelo ar...
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Entrar a matar, mandar sem contestação, desperdiçar a oportunidade de conseguir uma vantagem confortável ainda na primeira parte, com o espanhol Capel a carburar sempre; permitir a reorganização do adversário ao intervalo, chegar a ser encostado às cordas, sob a ameaça de derrota; reagir em desespero e acabar por resgatar o imperativo triunfo num cabeceamento de Rojo nas alturas aos 86' para não matar a derradeira meta - o lugar com acesso à próxima Liga Europa - de uma época bem mais que austera, desastrosa, que caminha para o fim com evidentes melhorias que até se podem revelar insuficientes, mais pela extrema vontade de não desistir do que por qualquer rasgo, inspiração ou estratégia: foi assim o filme do jogo para o Sporting, que voltou às vitórias à custa do Nacional e mantém vivo o sonho europeu.
Do jogo da Luz para o de Alvalade, a ausência de Eric Dier foi suprida por Adrien no meio-campo, mas foi nas diagonais interiores dos extremos que Jesualdo desenhou o desequilíbrio com que o Sporting fez o relvado descair para a baliza norte desde o primeiro minuto. Bruma, a partir da esquerda, e Capel, da direita, procuravam com naturalidade o corredor central, confundindo a marcação, trocando as voltas aos homens do Nacional, que iam resistindo como podiam. Logo aos 5', lançado em profundidade por Miguel Lopes, Bruma surgiu na área para deixar um primeiro aviso; no minuto seguinte foi Capel a abrir a contagem, de calcanhar, aparecendo a partir das costas da defesa para responder ao primeiro poste à assistência de... Bruma - que deu nó cego a Claudemir antes de cruzar -, numa movimentação em tudo idêntica à repetida muitas vezes por... Salvio, no Benfica.
Não se esgotava, porém, na troca de extremos a razão de ser do ascendente que o Sporting exercia sobre o 4x3x3 montado por Manuel Machado. O mesmo era, aliás, consubstanciado pela articulação do meio-campo dos leões e a consistência conseguida pelas ações, conjuntas e individuais, de Rinaudo, Adrien e André Martins, que mandavam no miolo e, mais do que iniciar a construção de jogo e lançar Bruma e Capel sobre a defesa alvinegra, impediam sobretudo o Nacional de criar jogo. Foi por isso que, a pouco mais de dez minutos do intervalo, e com o Sporting a pôr e dispor do jogo como entendia e a ameaçar chegar a uma vantagem bem mais confortável a qualquer instante - Capel atirou ao poste (24') e as ocasiões de golo iam-se sucedendo junto da baliza de Gottardi -, o técnico dos madeirenses optou por mexer na equipa para vê-la mais próxima da estratégia delineada. Resgatar uma preponderância inexistente a meio-campo, onde o Nacional só via jogar - muito por força da capacidade recuperadora de Rinaudo e de Adrien (este não tão forte no processo ofensivo, precipitando-se no passe, na ânsia de acelerar o jogo) -, foi a intenção reforçada ao intervalo, do qual o Nacional regressou renascido, por certo desperto pelas instruções do treinador.
Os madeirenses iniciaram a segunda parte com grande intensidade, e a história do jogo alterou-se radicalmente. Os defesas Claudemir e Moreno tomaram conta do miolo, e Candeias, Moreno e Rondón começaram a desafiar em permanência a concentração e acerto de Ilori e Rojo, que iam correspondendo. Face à propensão ofensiva da equipa, Machado apostou declaradamente em chegar ao golo e fez entrar o ponta de lança Bruno Moreira para o lugar do médio Jota. Isto já depois de Jesualdo ter procurado refrescar e recuperar o meio-campo com as entradas de Schaars para o lugar de Adrien (ganhou qualidade de passe) e de Labyad para o de André Martins (perdeu-a). O Sporting pagou então a fatura de uma certa imaturidade, que surge naturalmente em equipa tão jovem, vendo Bruma "assistir", junto à linha de fundo, Mateus e Candeias fuzilar sem hipóteses para Patrício (ou Rojo, ou Ilori). A reação leonina foi, porém, imediata e a procura do golo passou a processar-se nas duas balizas, com um jogo "partido" que prometia o desfazer da igualdade a todo o instante. Miguel Lopes - que, como O JOGO deu conta, tem jogado em sacrifício - sofreu outro traumatismo, foi assistido e rendido por... Viola, o melhor dos leões que saltaram do banco. Bruma vestiu-se de lateral-direito e o Sporting atacava com Capel, Labyad e Viola no apoio a Van Wolfswinkel, mas seria o central Rojo a responder fulgurante ao cruzamento de Bruma, a decidir o jogo, a dar a vitória e a manter os lugares europeus à distância de dois pontos.
O Nacional acabaria reduzido a dez após a expulsão de Bruno Moreira, por palavras dirigidas ao árbitro Jorge Ferreira. O Sporting fez por merecer o triunfo e ataca agora a Europa em Paços de Ferreira, onde se defende... a Champions.
