Não terá deixado saudades entre os adeptos da águia, mas tem boas recordações de Portugal e do clube encarnado. Hoje, dedica-se a tempo inteiro à família, é praticante mórmon, tem um empreendimento agrícola e ainda é piscicultor
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Há sete anos, jogou os seus últimos jogos como profissional. Desde então, a bola é apenas uma recordação longínqua para ele. Conta que, de quando em quando, disputa um jogo com amigos e que já não é um duro defesa, mas "um médio-ofensivo que marca livres diretos e faz passes para golo. Melhorei bastante", conta a rir-se. Mas o futebol não é mais do que isso na atualidade para Ricardo Rojas, aquele defesa argentino-paraguaio que passou pelo Benfica entre 1999 e 2001. Não vê jogos pela televisão, só ouve relatos pela rádio se estiver a conduzir e, por isso, não está por dentro das últimas novidades. "Aimar e Saviola continuam no Benfica", pergunta sem corar. A sua vida deu uma volta de 360 graus a partir da hora em que decidiu pendurar as chuteiras. Afastado do ruído da cidade, regressou a Puerto Rico, uma pequena cidade na província de Misiones, no limite da Argentina e perto da fronteira com o Paraguai, a 1200 quilómetros de Bueno Aires.
Praticante mórmon, leitor de Maquiavel, Séneca e Dostoievski, Rojas sempre foi um caso estranho dentro do ambiente futebolístico. Um exemplo: rejeitou a convocatória do Paraguai para estar presente no Mundial'2002 porque não desejava que o seu filho sentisse a ausência do pai durante mais de um mês: "Ele era muito pequeno e nessa fase da vida necessitava da presença diária do pai. Não foi uma decisão fácil, mas não me arrependo. Tomei-a com total convicção."
A que te dedicas. O que fazes em Puerto Rico?
Aqui vivem cerca de 20 mil habitantes e é uma cidade que está a crescer. Com a minha família voltámos às origens: temos um empreendimento agrícola e agora estou a estudar como fazer as castas de uvas para não ter de comprar as plantas. Assim, de um tipo de uva podes fazer centenas. O Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária de Misiones criou seis variedades de uvas com bons resultados e sem necessidade de um clima frio. Aqui amadurecem em novembro, mais depressa do que em Mendonza e San Juan e, portanto, podes vendê-las antes que haja uvas por todos os lados. E são muito boas.
Só cultivas uvas?
Não, também temos algum gado, verduras, frutas e outros produtos da terra. Além disso, também fazemos piscicultura, ou seja criamos peixes em tanques. Regulamos a sua alimentação, sabemos o que comem e são peixes frescos, não de rio, mas criados em laboratório. Num tanque de 20 por 50 metros pode-se ter até 300/350 pacus.
Já és um especialista na matéria...
Rosamonte e outras empresas criam os ovos do peixe que necessitam de certas condições de temperatura para serem fecundados. Eles têm os laboratórios, que são como incubadoras, e depois vendem as crias, que colocas nos tanques e em seis ou oito meses já pesam quase dois quilos. Em Misiones e Corrientes consome-se muito. Aliás, até vêm turistas provar os pacus daqui. Aliás, há umas cabanas onde podem ficar uns dias e os donos dos tanques deixam os turistas pescá-los e depois cozinham-nos no churrasco, no forno ou em sopa.
Mas pescar de um tanque não é jogo viciado?
Não, não penses que é assim tão fácil, porque os peixes dão-se conta que os querem pescar. É um ser vivo e inteligente e não morde assim facilmente o anzol. Às vezes, as pessoas cansam-se e então apanham-nos com uma rede.
O que foi que te levou a deixar o futebol?
O cérebro queria, mas as pernas já não respondiam. Atualmente, a média de idades dos jogadores está entre os 24 e 26 anos e são todos grandes atletas. Há tempos conversava com um treinador de Misiones porque havia uns miúdos que queriam ir prestar provas a Buenos Aires e aconselhei-os a prepararem-se muito bem fisicamente porque hoje em dia os jogadores são atletas. Podem ter as suas carências técnicas, mas correm cinco horas sem se cansarem e é preciso correr tanto quanto eles.
Foi só por uma questão física então que deixaste de jogar?
Principalmente sim. Também queria estar com a minha família, dar-lhes todo o tempo que o futebol me havia tirado, porque é um profissão muito exigente, que rouba muito tempo com viagens, concentrações... Ofereceram-me um lugar de treinador, como adjunto, por exemplo, mas nunca quis. A mim só me dava prazer jogar.
E agora, mesmo com amigos, quase não jogas...
Eu acompanho-os, preparo o churrasco e espero por eles à mesa.