De sábado a quarta-feira, na "decisão" do campeonato como na final da Liga Europa, a equipa do Benfica tombou nas compensações. A enorme diferença é que ontem só ela se atreveu de caras pela vitória
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O Benfica chegou à final de Amesterdão amachucado na alma por ter saído derrotado do último clássico nacional e, com isso, ter cedido a liderança a uma jornada do fim do campeonato. E ontem, na decisão da Liga Europa, no espaço de apenas cinco dias, o filme repetiu-se: esgotados os 90 minutos regulamentares e já com o tempo de compensação a correr a grande velocidade, novo murro cravado no estômago, com o adversário a levar a melhor. Mas só mesmo por esse caminho, o dos números que ditam e ficam para a história da I Liga e da UEFA, é que se pode dar corpo a uma forte analogia entre o desafio com o FC Porto e este frente aos também azuis do Chelsea. É como querer comparar o dia e a noite. Desta vez, ao contrário do que demonstrou no último sábado, a equipa de Jorge Jesus assumiu-se, tapou os olhos ao medo do insucesso e da depressão e, bem mais fiel ao estilo de jogo explosivo (e de desgaste, inevitavelmente) que a caracteriza e distingue, foi para cima. O Benfica quis gozar a final e não ser gozado por ela, foi claro para todos. Como também foi que se precipitou e teve ataques de ansiedade quando era avisado que investisse, sim, mas por trilhos seguros, porque do outro lado estava um rival que encaixara golos em todos os encontros deste competição. Era uma questão de elevar a dose de paciência, mas se os incessantes incentivos dos adeptos até davam - e deram mesmo - corda às pernas de muitos dos espremidos jogadores, talvez a perda de lucidez em momentos-chave tenha sido consequência da menor capacidade de oxigenação individual. Porque o Chelsea, tirando um ou outro tiro de meia distância, foi um adversário preguiçoso, mandrião, denunciando estar decidido a esperar pelo erro alheio para cravar os seus ferros. E, sem tirar nem pôr, foi isso que aconteceu.
Se o relvado não tivesse tão escorregadio, sobretudo na fase inicial do encontro, talvez a história fosse outra, talvez o Benfica tivesse conseguido acertar nas redes do Chelsea e desafiar o contendor a deixar-se de cinismos da treta e jogar uma final como se exige a uma equipa que queima milhões de euros em ordenados. Com Rodrigo a ser a surpresa de Jesus no ataque - no apoio a Cardozo, no tradicional 4x1x3x2 -, os encarnados deitaram as mãos aos primeiros 20 minutos do duelo e furaram a defensiva londrina vezes suficientes para provocar outro impacto e pôr o marcador a dançar. Gaitán, por exemplo, aos 12' teve no seu melhor pé, o esquerdo, uma oportunidade que um craque do seu nível - e que aspira a voos milionários noutros campeonatos - não pode enjeitar. Por esta altura, percebia-se o que Jesus queria de Rodrigo, o avançado mais fresco do plantel: velocidade nas transições e mobilidade que criasse espaços para o aparecimento de Enzo Pérez, Salvio ou Gaitán nas zonas de finalização. Por citar Enzo Pérez, é justo sublinhar que foi tão generoso como furioso - no bom sentido - do princípio ao fim. Uns metros à frente de Matic no corredor central, coube ao argentino tirar espaço ao vagaroso Lampard para dar algumas ideias e dimensão ao futebol do contido 4x2x3x1 do Chelsea, equipa que, além de ter o central David Luiz a trinco, tendia a afunilar as suas poucas iniciativas, uma consequência dos posicionamentos de Ramires (direita) e Óscar (esquerda) nos flancos. Benítez estava-se nas tintas para largura, profundidade ou posse de bola - 55% para os lisboetas ao intervalo; o que ele queria, e a estratégia não se alterou no segundo tempo, era apanhar o Benfica pelas costas e tramá-lo. Sem o merecer, foi bem-sucedido.
Com o andar do relógio, Rodrigo não confirmou a utilidade teórica e... passou a estar a mais. Mas foi ainda com o espanhol em campo que a equipa teve um golo anulado a Cardozo - por fora de jogo - e uma ocasião na cabeça de Salvio. Na resposta, falha de interceção (Matic), erro posicional (Garay) e... golo de Torres para o Chelsea. Com as alterações introduzidas pelo técnico, as águias empataram volvidos nem dez minutos. E continuaram a carregar pela vitória, mesmo perdendo depois Garay. Só que no fim, decaíram fisicamente e abriram buracos no meio, oferecendo alguns contragolpes. E ao ameaço de Lampard (bola na trave) seguiu-se o balde de gelo derramado por Ivanovic em cima de Jardel e de todos os benfiquistas.
