O empate da Rússia no Azerbaijão foi o golpe de teatro final de uma caminhada que não deixa saudades à Seleção. Portugal segue para o play-off, mas João Moutinho merecia estar no Brasil por decreto...
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O apuramento direto dependia de um alinhamento altamente improvável dos astros, mas, mesmo assim, a curiosidade e um certo masoquismo foram justificando a pergunta ao longo do jogo: como está a Rússia? Já no final, quando se confirmou que perdera pontos, começaram os "ses". Se Portugal não tivesse empatado com Israel...
Se, se, se. Na verdade, são muitos "ses" juntos, e não apenas esse empate de Alvalade que agora dá jeito conjugar com o da Rússia no Azerbaijão, a obrigar Portugal a uma reflexão demorada sobre os pecados cometidos nesta caminhada para o Brasil, um balanço que terá de marinar até novembro, altura em que fica arrumado o assunto com o play-off que há de decidir a sorte de boa parte de uma geração. E talvez seja essa a única coisa a dizer no balneário português antes do play-off. Há por aí quem não consiga imaginar um Mundial sem Cristiano Ronaldo e é verdade que, por todas as razões - e ainda aquela que, eventualmente, só a nós, portugueses, interessa... -, seria bem mais pobre sem ele; mas, a ter servido para alguma coisa, esta vitória sobre o Luxemburgo ajudou a cimentar outra certeza: um Mundial sem João Moutinho seria também uma tristeza. Depois de falhar o de 2010 por opção de Carlos Queiroz, Moutinho só falhará o próximo se lhe faltar companhia à altura.
Não foi o caso neste jogo. Josué conseguiu desembaraçar-se bem na missão de o acompanhar, até porque, ao lado de Moutinho, só joga mal quem não sabe. E contra o Luxemburgo também. Portugal quis mostrar que sabia, apesar das alterações profundas na estrutura habitual do onze, e agarrou o jogo como lhe competia, procurando motivar-se na missão de jogar para, basicamente, coisa nenhuma. Joubert entreteve-se a barrar as primeiras investidas e o resto da equipa luxemburguesa, certinha, tentava provar que conseguia jogar olhos nos olhos com Portugal em meio campo. A outra metade, a do ataque, ficava lá ao longe, onde o Luxemburgo se mostrava incapaz de conseguir mais do que fazer cócegas nas mãos e nos pés de Rui Patrício, a precisar de uns sorrisos e de uma terapia à base de palmas para recuperar do trauma do último jogo.
As coisas andavam assim, neste falso equilíbrio a meio-campo, quando uma entrada dura de Joachim não deixou ao árbitro outro remédio senão expulsá-lo. A um mal seguiu-se outro para os luxemburgueses, numa espécie de causa-efeito: dois minutos depois de terem ficado a jogar com dez, viram Moutinho rasgar uma avenida para a aceleração de Varela, que embalou numa diagonal para a área, contornou um adversário e fez o primeiro golo. Seis minutos depois surgiu o segundo: Nani começou a jogada, Moutinho embelezou-a com um toque de calcanhar soberbo para o mesmo Nani a concluir. Simples, bonito e eficaz. E o terceiro só não apareceu antes do intervalo porque, com Moutinho outra vez na jogada, Coentrão estava em fora de jogo.
O selecionador luxemburguês reformatou a equipa com António Luisi para responder à inferioridade numérica e, mais por culpa de Portugal do que por essa alteração, voltou a equilibrar o que parecia definitivamente desnivelado: 11 portugueses contra dez luxemburgueses não foi igual a domínio avassalador. Aliás, esta Seleção tem uma certa tendência para a soneira e foi por isso que, da bancada, se ouviu a dada altura um sonoro "toca a acordar, pá!".
Paulo Bento, numa mistura de gestão e prémio com vontade de abanar, trocou Miguel Veloso por Hugo Almeida e Ricardo Costa por Sereno. Portugal foi-se apagando cada vez mais e o público mostrava já alguma impaciência quando uma bola cruzada por Josué, à direita, raspou na cabeça (pois claro, pois claro...) de Moutinho, como que a ganhar inteligência, e ficou nos pés de Postiga. Foi só empurrar. Mas isto de ser só empurrar tem o que se lhe diga: Hugo Almeida, numa, e separe-se bem as sílabas, i-na-cre-di-tá-vel falha após ter sido servido por André Almeida, acertou na barra.
Uma ironia perfeita, esta de terminar a fase de qualificação a esbarrar no ferro. No play-off, ou lances como aquele entram na baliza ou "tchauzinho" ao Brasil...