O FC Porto recuperou a liderança e respondeu com eficácia colombiana ao Sporting de Montero. No laboratório de Paulo Fonseca, foi a vez de Herrera...
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Dá mesmo vontade de começar pelo fim: em cima do minuto 90, Paulo Fonseca chamou Quintero para a substituição que dá cabo dos nervos a qualquer jogador. Mas enquanto Nuno Campos lhe dava instruções detalhadas, e que pareciam anedóticas considerando o que faltava jogar, o Arouca marcou: um livre-surpresa de Pintassilgo explodiu na cara de Helton e deixou o resultado preso no embaraço das vantagens mínimas que têm sido imagem de marca deste FC Porto. Inesperadamente, Quintero passava a ter um papel a sério: queimar um tempinho na troca com Josué teria sido suficiente, mas o colombiano mostra-se capaz de transformar 90 segundos num prato cheio e, também de livre, provou ter talento a mais para o banco. No fundo, e vendo bem as coisas, recuperou nesses segundos uma interrogação que Herrera sugerira no jogo inteiro: andava escondido das opções exatamente porquê? Porque não podem jogar 12 seria uma resposta possível de Paulo Fonseca, arrojado na ideia de mudar a filosofia do meio-campo, mas conservador na prática de seguir a ordem natural das coisas, dando a Defour a prioridade de preencher o vazio deixado por Moutinho. Até aqui, nada de anormal.
Mais difícil de explicar é este entra e sai do onze em outubro, como se a pré-época estivesse a esticar-se para além do razoável. Não há fórmulas mágicas, é verdade, mas há um tempo para as testar em laboratório e parece que Paulo Fonseca arrastou, perigosamente, o período de testes. Agora foi a vez de Herrera. Não ficou claro se o problema está resolvido em definitivo com o mexicano; as limitações do Arouca impedem conclusões definitivas e a própria irregularidade de rendimento do FC Porto, que continua a ser uma verdadeira montanha-russa de emoções num só jogo, prolonga a dúvida. É um facto que Herrera esteve bem. Muito bem mesmo, com um raio de ação alargado, uma disponibilidade física notável e uma capacidade de esticar o jogo para as alas que Defour não tem.
Com o Arouca encolhido numa malha defensiva apertada, foi difícil ao FC Porto encontrar espaços, sobretudo porque era preciso alargar o jogo e já se sabe que Josué e linha são coisas que não combinam, uma falha compensada pelo bom jogo interior. Varela podia ser a solução para disfarçar essa dificuldade, mas o Arouca não deu por ele; esteve fraco, fraco. Pior ainda: Paulo Fonseca andou a ensaiar Kelvin e Iturbe nesse papel durante a pré-época a sério e agora está reduzido a Varela, Licá e Ricardo. Parece curto.
Só com Herrera a mudar ritmos, os portistas dominavam sem massacrar, uma estratégia ampliada pelo primeiro golo. Aqui, palmas para Alex Sandro: bem a romper, o brasileiro serpenteou até à área e isolou Jackson, que começava assim a responder cedo ao desafio lançado por Fredy Montero na véspera. O Arouca reagiu timidamente, com um ataque franzino que só conseguia fazer cócegas à defesa portista; aliás, na primeira parte, a jogada de maior perigo resultou de mais uma sessão espírita de Helton, daquelas em que o guarda-redes teima em encarnar um Pelé com luvas e desata às fintas. Acabou num choque polémico, com os da casa a reclamarem falta...
Já na segunda parte, Paulo Fonseca mostrou cedo que não estava a gostar do que via. Trocou Varela por Licá e, diga-se, ficou quase na mesma. Este FC Porto só consegue esticar jogo com a ajuda de laterais. Ou de centrais. Otamendi, após passe de Herrera, mostrou como se pode desequilibrar uma defesa adversária, fazendo de extremo improvisado e servindo de bandeja mais um golo de Jackson. Deu para perceber como se faz, Varela? Antes disso, Fonseca já tinha lançado Ricardo, porque Pedro Emanuel tinha Paulo Sérgio e Serginho em campo e era preciso interromper a ligação dos laterais do Arouca a esses extremos fresquinhos. Josué continuou onde tinha estado quase sempre, no meio, mas agora oficialmente no papel de Lucho. O Arouca crescia, num domínio consentido pelos dragões, protegidos pela vantagem, quando Romário se juntou ao ataque.
O resto já se sabe, porque esta crónica começou pelo fim. Aos 90 minutos, Pintassilgo animou as bancadas com um livre bem executado, Quintero deu o troco na mesma moeda e o FC Porto voltou a ultrapassar o Sporting de Montero na classificação.
Moral da história: para colombiano, colombiano e meio.