Sporting teve mais sorte, mais frieza e mais árbitro na primeira vitória da época sobre um grande. FC Porto foi dono da primeira parte, teve queixas, uma bola na barra e golos cantados, mas também demasiados erros
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Um golo mal validado foi o final sarcástico destes oito dias de bar aberto contra a arbitragem e fez parte substancial da diferença num jogo em que, para além do apito, também a sorte e a serenidade quiseram mais com o Sporting do que com o FC Porto. O lado menos negativo do erro (ou erros) de Pedro Proença e associados é que, durante umas semanas, será difícil aos sportinguistas voltarem ao tema do complô dos árbitros. Em princípio.
Para além do fora de jogo de André Martins no lance fatal, e de outras queixas dos portistas, o Sporting ganhou finalmente a um grande e a um grande que, durante 45 minutos, até lhe foi superior. Se não no controlo do jogo, pelo menos nas situações: um golo cantado que Patrício tirou da baliza com a defesa da noite (16'), uma bola na barra (29') e a reclamação de um penálti quando Jackson tentava um cabeceamento fácil a dois palmos da baliza (44').
Mas essa foi a primeira parte e os jogos têm duas. No total da hora e meia, só o Sporting foi constante, mesmo considerando que fez o segundo remate à baliza num livre de Dier, já depois do intervalo. Entre as duas áreas, contou sempre a grande pressão dos jogadores do Sporting, só durante 45 minutos combatida em plano de igualdade pelo FC Porto. Nesse período, percebeu-se o que já se tinha depreendido da visita dos leões à Luz. Tal como os avançados e criativos do Benfica, também os do FC Porto conseguiram produzir com alguma facilidade ataques mais flagrantes. Porque são melhores.
Aos 16', Quaresma provocou duas pancreatites e desfez três cálculos renais ao lateral Cedric, antes de entregar um golo feito a Varela. Valeu que, na baliza do Sporting, está um jogador da mesma classe. A bola aproximava-se das duas áreas em proporções idênticas, mas era na de Patrício que mais se cheirava o golo. À de Helton, o Sporting chegava sobretudo em contra-ataque ou através dessa mina de ouro que foram (são) Mangala e Abdoulaye, desajeitados, negligentes e sempre demasiado frágeis perante a proximidade de adversários. É claro que Jardim lhes caiu com tudo em cima sempre que possível. Não marcou por essa via, mas os erros sucessivos dos centrais, e cada um mais disparatado do que o outro, mantiveram o espetro da instabilidade a pairar sobre o FC Porto até o golo de Slimani lhe permitir tomar posse da equipa toda, na segunda parte.
O Sporting voltou dos balneários com o sangue a ferver por ter sido subalternizado durante tanto tempo. Em poucos minutos, apareceram finalmente lances equiparáveis aos do FC Porto, em particular um cabeceamento de Rojo num pontapé de canto (51'), e o golo (53'), num crescendo de intensidade. À parte a posição ilegal de André Martins, que descompensou uma defesa alinhada para o fora de jogo, também Abdoulaye conta mal as espingardas quando sai o cruzamento do médio e deixa toda a área disponível para Slimani (e um colega fantasma a quem o senegalês julgaria ter entregue a marcação), enquanto ele acorria ao primeiro poste para marcar ninguém. Toda a situação, lembrando tragédias portistas recentes, e talvez algum cansaço da semana europeia atingiram o FC Porto como uma bala. Não houve verdadeira reação; só uma tensão cada vez maior que viria a culminar no encontrão de Fernando em Montero (90') para um cartão vermelho irracional que comprometeu o último esforço.
Entretanto, Helton deixara o campo com uma lesão gravíssima - rotura do tendão de Aquiles - e perder a única voz madura da defesa não ajudou, para além de ter condicionado os movimentos a Luís Castro. Já tinha trocado Carlos Eduardo por Quintero, pelo que só lhe restava um tiro. Optou por substituir Varela por Ghilas e por ordenar a entrega da bola ao médio colombiano, para que este a pusesse o melhor e o mais rapidamente possível no argelino ou em Jackson. Foi assim que este último se materializou entre Dier e Patrício (77') para outro golo iminente que o inglês, num mergulho desesperado acabaria por lhe roubar. No outro banco, o propósito de Jardim era a desestabilização final: retirou André Martins (Carrillo) e relocalizou Carlos Mané, o impertinente, no centro do campo para torrar a paciência que restava a Fernando e aos dois centrais. Em conjugação com a pressão ininterrupta que a equipa foi capaz de fazer e o momento psicológico do FC Porto, foi o bastante para anestesiar o jogo, embora Jackson e Ghilas sempre fossem ameaçando nas bolas diretas que os espaços de serenidade dos colegas lhes deixaram ao alcance