O FC Porto entrou bem, dominou e marcou, mas voltou a ter um deslize incrível na defesa. A continuidade na Champions depende de terceiros
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É um resultado que não aquece nem arrefece. Na verdade, arrefece mais do que aquece, porque o FC Porto precisará de uma escorregadela de terceiros para seguir em frente e cumprir um dos objetivos mínimos a que se propôs. A leitura apressada da estatística sugere que o empate talvez tenha sido castigo pesado para um dragão que acabou com mais posse de bola e mais remates, mas uma espreitadela mais atenta a outros detalhes, espremendo o jogo para lá desses números, obriga a lembrar que Hulk até desperdiçou um penálti. Aliás, o lance que o originou é perfeito para abreviar uma interrogação: o que se passa com esta defesa portista?
A precipitação de Otamendi no passe, que foi direto aos pés de um adversário e terminou com o mesmo Otamendi a cortar a bola com o braço, podia ser apenas uma nota acidental isolada, não fossem outros exemplos, a começar pelo anedótico golo de Hulk, a sugerir que há uma ingenuidade estranha no sector e que, à conta dela, não há banho de bola que consiga resistir a tanta água.
No fundo, foi isso: o FC Porto começou por dar um bom banho a este Zenit que Spalletti, apesar dos milhões, quis que fosse cínico, mas que, na primeira parte, foi confundindo cinismo com receio. Empurrados pela pressão portista, os russos encolheram-se em campo, por incapacidade de resposta a esse fôlego, mas também porque lhes convinha: convidando o adversário a subir no terreno seria depois mais fácil cravar a faca Hulk nas costas da defesa. Estratégia de clube pouco ambicioso dirão uns, mas estratégia ainda assim. O que o Zenit não sabia é que nem precisava de se esforçar tanto.
Antes de o ter ficado a saber, houve o golo de Lucho. Um cabeceamento perfeito de El Comandante no coração da área, a dar sequência a um não menos perfeito cruzamento de Danilo, permitia espelhar no resultado o que se via em campo. Uma fórmula simples: mais FC Porto igual a vantagem. Quatro minutos depois, uma lesão de Danny obrigou Spalletti a trocá-lo por Kerzhakov, desviando Hulk do meio para a linha, e logo na jogada seguinte, o que chegou a parecer um passe disparatado de Shirokov para a área ganhou vida numa hesitação a dividir por três - Mangala, Helton e Alex Sandro, sobretudo estes dois.
Paulo Fonseca acabaria por descobrir que parte da explicação estava ali, naquele infortúnio de Danny; Spalletti tinha Kerzhakov à mão para socorrer a emergência enquanto ele, no banco, não tinha ninguém. Ou melhor, não tinha ninguém em quem confiasse verdadeiramente. Não é de hoje que se percebe isso, mas nota-se mais numa prova como a Champions. Josué, com a boa vontade de ajudar no meio, deixa a linha órfã; Varela vai alternando dias de encher o olho com outros, como ontem, em que tropeça nele próprio; Alex Sandro tinha Hulk como entretenimento e não subia tanto como gostaria, deixando mais exposta a tal fragilidade de não haver desequilibradores. Sem eles, Jackson mais parece uma ilha, tão isolado como perdido.
Sem soluções, e com Spalletti a lançar parte da coleção de trunfos que tinha no banco (Arshavin, por exemplo...), Paulo Fonseca assistia ao crescimento do adversário, já depois de Hulk ter visto Helton defender um penálti e apesar de Varela, Alex Sandro e Jackson terem fermentado a estatística dos remates. O treinador portista podia ter improvisado, experimentando Danilo um pouco mais à frente, porque o brasileiro é dos poucos que desequilibram, mas, talvez porque o empate lhe tenha sugerido que arriscar não era prudente, preferiu a solução do costume nas aflições. Atirou Licá ao jogo, guardou Ghilas para os últimos minutos e o resultado foi o do costume. Nenhum.