Leão isolado no topo: uma liderança como não se via há 32 anos, um Montero que respondeu à altura a Jackson e uma onda de euforia verde são os principais factos da partida que acabou com a invencibilidade caseira do Gil Vicente
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Num confronto que se anunciava como estranho, entre um não-candidato ao título, apesar de poder saltar para o topo da tabela em caso de vitória, e um não-candidato aos lugares europeus, mau grado por lá andar há muito nesta Liga, acabou por imperar a lógica imposta por uns leões que, por estes dias, vivem numa nuvem exibicional e de resultados. A onda verde, que muito antes do apito inicial se notara em redor do Estádio Cidade de Barcelos e se propagou após o apito final - banco e presidente incluídos -, é o melhor barómetro desse estado de espírito dos sportinguistas, justificado por uma liderança isolada. Mas que, a cada dia e a cada novo resultado positivo, mais complica a psicologia e o discurso de Leonardo Jardim, tão empenhado que está em manter os seus jogadores alheados da pressão e de se deixarem ofuscar pelos holofotes da luta pelo título e com os pés bem assentes no chão. Acontece que, agora, esse chão é o teto da classificação do campeonato, com dois pontos de vantagem à 12ª jornada, para FC Porto e Benfica, o que não se verificava desde a época 1981/82 - e os de Alvalade foram, então, campeões.
Com tantos motivos para celebrar, o difícil é mesmo conter a euforia. E o primeiro momento de explosão dos muitos adeptos leoninos que estavam nas bancadas aconteceu aos 19 minutos, quando o "assassino silencioso" apareceu pela primeira vez em palco, a dar o primeiro golpe fatal nas aspirações de o Gil Vicente manter a folha limpa de derrotas nos jogos em casa. Montero é um regalo para quem sabe apreciar movimentações com e sem bola, menos para os adversários, claro está. Neste caso, a fração de segundo a mais que Danielson e Pek's demoraram a reagir foi o bastante para o colombiano dar um toque para lhe tirar a bola do alcance e depois, com subtileza, do de Adriano.
Menos de 20 minutos de jogo e Montero já tinha inclinado o destino da partida e começado a responder ao bis da véspera do compatriota e concorrente pelo título de melhor marcador Jackson Martínez. E a vantagem foi ganhando maior justificação com o passar do tempo: o Sporting, disposto num 4x3x3 em que William Carvalho dá equilíbrio na intermédia e André Martins dá desequilíbrio no último terço, fez sempre mais por ganhar e expôs a ideia de jogo de equipa pequena que estes "galos" exploram até à exuastão. Só que, em desvantagem no marcador, as saídas para o ataque pelos alas Avto e Diogo Viana e a qualidade e o querer de César Peixoto tornam-se argumentos manifestamente insuficientes, em especial quando pela frente está uma equipa organizada a defender, criteriosa a gerir a posse de bola e sorrateira na criação de espaços na frente. Se algo transmite um treinador à sua equipa, então Leonardo Jardim é o homem dos equilíbros. Pelo contrário, João de Deus foi do oitenta ao oito em três minutos, quando de uma chance de golo de Paulinho, bem negada por Patrício, passou a ver-se em inferioridade numérica por uma falta tão dura quanto denescessária de Peks' sobre William Carvalho.
Com menos um e meia hora para jogar, louve-se o atrevimento de Deus, que recusou entregar-se ao domínio da sorte para chegar ao empate. Manteve três homens na frente e um duplo pivô a meio-campo - o incombustível Peixoto e Vítor Gonçlaves - e quando deu entrada a Simi e Brito, ambos avançados, quase foi premiado, com o remate deste a ir ao poste. Só que então, já Montero tinha fornecido mais uma razão para se pensar "Que raio andava ele a fazer nos Seattle Sounders?" e feito o 2-0, sentenciando a partida e voltando a destacar-se de Jackson. E, ao contrário da quinta jornada, quando teve a oportunidade e não a aproveitou ao empatar em casa com o Rio Ave, após uma igualdade do FC Porto no Estoril, o Sporting tornou-se mesmo líder isolado. Bastará para ser candidato? A festa em Barcelos - banco e presidente incluídos - devia chegar para responder...