Hoje comentador especializado no futebol de todas as Américas, o mexicano faz o relatório em entrevista a O JOGO
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Aquela tesoura no Mundial de 1986 tornou Manuel Negrete famoso, levou-o para Alvalade e despertou o imaginário de muitos. A aventura do ex-médio-ofensivo no Sporting não foi a esperada, mas o internacional mexicano ficou leão para sempre. A O JOGO, fala de Fredy Montero, um avançado que, diz, há muito tempo tinha em linha de vista. Define-o dos pés à cabeça e desvenda-lhe os segredos.
Fredy Montero é a grande atração do Sporting no momento, mas não há muita tradição de matadores americanos no clube, excetuando brasileiros e argentinos. Como explica este impacto imediato?
Conheço-o bem. Fredy Montero é das maiores feras de toda a América no futebol atual. Como passou tanto tempo aqui, não sei. É um jogador muito completo. Para começar é destemido, joga sempre para a equipa, muito forte de cabeça e finaliza bem com os dois pés. Também é muito inteligente na forma como se movimenta. Vi-o jogar muitas vezes pelo Seattle Sounders e intrigava-me por que razão ele não ia para a Europa. Acho fantástico que o Sporting o tenha contratado. Quando soube, fiquei muito contente. Ele já é o melhor marcador do campeonato [nove golos em sete jornadas] e isso não me espanta nada. Nasceu para fazer golos. Tem instinto, aquele toque que distingue os jogadores especiais dos vulgares. Não tem defeitos. É bom em tudo.
Montero está a espantar também pelos vários golos de cabeça que tem vindo a apontar, na circunstância quatro em nove. Conhecia-lhe essa capacidade, tendo apenas 1,76 m de altura?
Sim, não é anormal ele marcar de cabeça. É preciso ver que o Montero tem muita força nas pernas e uma fantástica impulsão. Mas lá está, ele faz esses golos porque sabe posicionar-se. Esse é o segredo para levar vantagem. Não é só o momento do salto. O jogador tem de ser inteligente. Também ninguém se admira de ver Messi, Xavi ou Iniesta fazerem golos de cabeça. É porque são inteligentes. Tenho pena que o público português não tenha visto os que eu fiz...
Costumava marcar de cabeça?
Sim, consegui fazer vários pelo Pumas. Como não era alto [1,70 m], fazia o mesmo que Montero: enganava o marcador para aparecer no espaço vazio. É o truque. Da mesma forma que um avançado mais frágil procura fugir ao contacto para bater os defesas, um jogador baixo, com impulsão, tem de aprender primeiro a posicionar-se. Não pode entrar no duelo de qualquer maneira.
Disse que ficou admirado por Montero só agora chegar à Europa. A manter este ritmo, acredita que poderá seguir rapidamente para outra liga europeia?
É cedo para prever isso, mas sabemos que a liga portuguesa é vista como uma porta de entrada na Europa. É natural que Montero tenha essa aspiração, mas tem de fazer mais, ganhar títulos. Se for assim, melhor para o Sporting e para ele. Todos sairão a ganhar, seguramente.
Será assim tão difícil Montero chegar à seleção da Colômbia?
Já é internacional, mas merece que José Pekerman [selecionador] olhe para ele com outros olhos. Em pouco tempo, fez nove golos em Portugal e está adaptar-se ao futebol europeu de forma maravilhosa. Claro que os colombianos têm tido tremendos avançados nos últimos anos e continuam a tê-los, mas Montero merecia ser pelo menos chamado. A concorrência é forte com Falcao e Jackson Martínez, mas está a trabalhar muito bem.