"Montalegre? Peço aos jogadores do FC Porto que guardem o melhor para o Barcelona"
Equipa do Campeonato de Portugal promete animar ambiente no Dragão e a vila ficará vazia. Stacey é ferrenha do FC Porto, dividida por um amor sem igual e laços familiares no banco barrosão.
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A euforia em Montalegre nunca esteve dependente do fator casa. O sorteio ditou jogo na Invicta e acabou por provocar mobilização dos adeptos desta tão brava capital do Barroso. É um acontecimento histórico por cima de qualquer resultado. “Não foi possível ser cá, assim vai Montalegre ao Porto”, atirou Tony, no salão nobre da Câmara.
Com autocarros preparados, meios próprios assegurados, estimam-se 2000 adeptos do Montalegre, o que deixa outra certeza ao técnico. “O estádio do Dragão estará mesmo pintado de azul, e muitos dos nossos até vão chegar do estrangeiro. Isso honra-nos muito!”
Neste jogo marcante para Montalegre, a vila ficará deserta e nas bancadas do Dragão vão estar mais adeptos do que habitantes, cerca de 1500, entre os quais há casos de paixão invulgar. Como a de Stacey Sanches, de 36 anos, portista sem concessões, presença constante no Dragão, nada abalada pelos quilómetros que a distanciam do Porto. A sua costela é conhecida no meio barrosão e não escondeu a paixão ardente que a liga aos dragões. Alocada ao departamento de fundos comunitários da autarquia, vestiu-se ontem a rigor, eterna enamorada do manto azul e branco, não escondendo o seu clamor, mesmo sendo irmã do adjunto Steven Sanches e prima do técnico Tony.
“O FC Porto é um amor da minha vida, é algo que me acompanha da nascença, vem de casa. Ser portista é sentimento do berço, atravessa os meus pais, o meu irmão, os meus filhos e o meu sobrinho. Passa de geração em geração. Até o meu marido! Quando me pediu em namoro, logo lhe perguntei qual era o clube”, recorda, bem-humorada, esta montalegrense que chegou com cinco anos dos Estados Unidos.
Com família tão implicada no sucesso do Montalegre, Stacey balança no coração as aspirações das duas partes. “É um jogo especial: de um lado está o grande amor, do outro lado o meu sangue. É algo inexplicável, também será inesquecível. Espero que todos os intervenientes saiam valorizados. Da parte do FC Porto nunca se facilita, mas peço aos jogadores que guardem o melhor para o Barcelona, e também sei que o Montalegre está bem e vai discutir o jogo. Não ficarei admirada se fizerem história”, sublinha esta responsável de contas da Câmara.
Mais difíceis serão as contas dos golos, mesmo preparada para vencer o desconforto de qualquer assento. “Vou frequentemente ao Dragão, apoio o máximo que posso também em jogos fora, mas esta será a primeira vez que estarei lá a torcer na bancada visitante, correndo o risco de no calor do jogo saltar com um golo do FC Porto”, documenta, deixando o tempo sugerir-lhe os impulsos.
Atenta a tudo o que rodeia os dragões, não passa ao lado das convulsões internas. “Vive-se um tempo confuso, a contestação é maior do que nunca, normal pelo aproximar das eleições, mas nada nem ninguém apagará o que Pinto da Costa deu ao FC Porto e aos portistas”, frisa, contundente sobre Conceição. “Ele não é só técnico, ele é o FC Porto, a extensão de qualquer portista no campo”.
Edu revê Cláudio Ramos
Edu Machado, capitão do Montalegre, tem um abraço prometido no Dragão. “Vou encontrar um ex-colega e amigo, que é o Cláudio Ramos. Subimos o Tondela, o resto do trajeto dele fala por si, feito de imensa qualidade e muito trabalho. É humilde e de bons valores. Vai ser um bom jogo para o rever, é um dos melhores guarda-redes que temos em Portugal”, garante.
Técnico apela à história da vida
Tony garante “jogo de Champions” para o Montalegre no Dragão. “Vamos todos levar uma lição. Eu vou levar uma lição do Sérgio Conceição, mas nunca vou pedir aos meus guarda-redes que defendam como o Diogo Costa, nunca vou pedir aos meus avançados que sejam um Taremi ou Evanilson. Quero só que levem as histórias das suas vidas para o campo”.
Juntam-se na Alameda
Na maior mobilização para um jogo fora de portas, os adeptos do Montalegre, ontem aniversariante, celebrou os seus 59 anos, partem em autocarros e meios próprios a partir das 14h15, estando a chegada prevista ao Dragão às 16h30. Concentram-se na Alameda para darem o seu colorido à festa da Taça, seguramente munidos de iguarias da região.
Receita faz a diferença
Paulo Viage é presidente do Montalegre há 13 anos, já se honrou por organizar uma receção ao Benfica, vive agora o privilégio de uma deslocação de grande cartaz. “Espero, desejo e apelo a que possam ceder a parte da receita. Para eles não será valor elevado, para nós todo o pouco é muito”, realçou o dirigente, que teve largos anos como técnico o seu irmão.