Em entrevista a O JOGO, médio belga fala do atual momento do FC Porto, desvaloriza as mudanças táticas no meio-campo e admite que, sem Moutinho, este é o ano da afirmação definitiva
Corpo do artigo
Defour recuperou o estatuto de titular na seleção belga e começa também a marcar pontos num meio-campo órfão de João Moutinho. Foi na Bélgica, onde todos lhe gabam a boa forma, que falou exclusivo a O JOGO, rebatendo algumas críticas que têm sido feitas ao FC Porto nos últimos tempos. O jogador recordou a vitória em Guimarães, na Taça de Portugal, e fez desse resultado rampa de lançamento para uma reflexão ao atual estado de uma equipa que, apesar de liderar o campeonato, ainda não recolheu reconhecimento unânime. Desmontou as teorias à volta do novo sistema, particularmente a mudança introduzida por Paulo Fonseca no meio; comentou os erros defensivos e alguma falta de acerto na finalização. O médio tem consciência da pressão, encara-a como uma inevitabilidade num clube como o FC Porto e, a título particular, volta a assumir que este tem de ser o ano definitivo da explosão.
É legítimo dizer que a vitória em Guimarães foi mais do que uma vitória?
Sim, porque vínhamos de dois empates e era importante vencer na Taça de Portugal para mantermos a tranquilidade.
Serviu para aliviar um pouco as críticas que têm sido feitas, é isso?
Críticas haverá sempre e quando um clube como o FC Porto não ganha é normal que se fale disso. Às vezes, mesmo ganhando somos criticados. Isso tem que ver com a exigência que há neste clube. Os adeptos têm sempre razão, porque estão habituados a que esta equipa renda ao mais alto nível. Cabe-nos responder em campo. Estamos habituados a que seja assim e só temos de seguir em frente, ouvir e dar a resposta com resultados. Se possível, aliando boas exibições. Penso que já começamos a responder às críticas com a vitória em Guimarães.
É recorrente apontarem o sistema que o treinador está a implementar, sobretudo no meio-campo, como uma das razões para que o FC Porto não esteja a jogar como habituou...
O sistema é uma falsa questão. Estamos a falar apenas de uma forma diferente que a equipa tem de se movimentar em campo, de abordar os momentos do jogo. Mas, no fundo, nem é assim tão diferente da época passada. Temos algumas situações que estamos a consolidar, é mais uma questão de trabalho. Antes jogávamos em posse, agora procuramos chegar mais de pressa à baliza contrária. É claro que a maneira como procuramos lá chegar pode nem sempre agradar à vista, mas estamos a trabalhar para melhorar e não me parece que estejamos assim tão mal como querem fazer parecer. Somos líderes no campeonato, temos hipóteses de seguir em frente na Champions e vencemos em Guimarães, na Taça de Portugal. As contas fazem-se no final, mas acredito que estamos no bom caminho para continuarmos a somar títulos.
O empate em São Petersburgo colocou o FC Porto numa situação difícil para o apuramento na Champions, não?
Claro. Mas ainda podemos apurar-nos. É óbvio que não vai ser fácil, mas temos dois jogos pela frente e temos de os ganhar, não há outra solução. Temos equipa e qualidade suficiente para isso, há que encarar esses dois jogos como duas finais, empenhar-nos e dar a volta a uma situação que provocámos.
Não concorda que faltam soluções nas alas, por exemplo, e que isso se reflete no rendimento ofensivo?
Temos vários jogadores que chegaram este ano para reforçar esses sectores. Mas não concordo com essa interpretação. O Josué está a fazer bons jogos, pode ainda não ter aquele feeling com o Jackson no ataque, mas é normal que assim seja, porque jogam juntos há pouco tempo. Depois temos o Licá e o Ricardo, que são jovens e estão a trabalhar, a absorver o que é ser jogador do FC Porto, mas que já mostraram qualidade. Não podemos esquecer que, no início da temporada, tudo correu bem, marcavam-se golos e as pessoas estavam satisfeitas. Agora, também é normal que, quando se deixa de marcar golos e de ganhar um ou dois jogos, comecem a ser levantadas questões. Quando o Jackson diz que quer mais bola na frente, é apenas uma tentativa de justificar a ligeira quebra de produção, nada mais.
Mas parece ser um facto que Jackson nem sempre tem sido alimentado no ataque como devia...
Pode acontecer, há momentos em que isso acontece, mas penso que ele também tem tido as suas oportunidades. É um sentimento que ele tem, mas temos trabalhado para que isso seja corrigido e um goleador como ele não vai deixar de marcar por causa disso. Aliás, já marcou em Guimarães.
Não acha que a equipa depende em demasia dele?
Jackson é um jogador importantíssimo, marca golos e marca muitos; é muito útil para nós e claro que é fundamental, porque não há tantos jogadores assim como ele.