Explicação para fenómenos colombianos como Jackson e Montero - ou Falcao e Gutiérrez - é simples: nasceram na zona costeira, onde há um biótipo particular. "Têm fisionomia e mentalidades específicas", resume Paco Maturana, lançando o duelo
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Que têm em comum Jackson Martínez, Fredy Montero e ainda Radamel Falcao, Teófilo Gutiérrez e Luís Muriel? São todos goleadores, conhecidos do futebol europeu, internacionais pela Colômbia e, eis o detalhe, naturais de cidades portuárias ou limítrofes da costa colombiana. Séculos depois, aquela região volta a brilhar em tons dourados, mas o precioso metal ganha forma nos mais competitivos pontas de lança à escala global. Agora para alimentar a indústria insaciável e milionária do futebol, como antes quando corsários e piratas que da costa do Caribe alimentavam a ganância das potências coloniais ou a sua própria ânsia por tesouro, o minério espraia-se para o outro lado da região costeira, atingindo o Pacífico, onde a Colômbia deixa de o ser para dar lugar ao Equador. A riqueza volta a demandar à Europa em diferentes rotas e é exibida nos retângulos de jogo, com Portugal a ser invariável porto de acolhimento. Além dos referidos, há ainda nomes como Bacca ou Darwin Quintero, todos eles com a origem em comum: são "costeños". A exceção que confirma a regra é Dayro Moreno, que já teve um pé em Alvalade e é oriundo de Chicoral, no interior. No país do café que o narcotráfico - e o narcofutebol - tornou infame entre 1980 e 1990, duas das maiores sumidades futebolísticas locais explicam a O JOGO que não é mito: os jogadores nascidos na costa - ou próximos dela - têm genes especiais. Dois deles, Jackson e Montero travam esta noite, no clássico do Dragão, o primeiro duelo em Portugal.
Onde a fronteira do Panamá e da Colômbia divide a vista em dois oceanos, ninguém dá o primeiro pontapé na bola para jogar do meio campo para trás. O limite é traçado quando há uma derivação para os flancos ofensivos ou para a retaguarda do avançado. Andar nos arredores da baliza adversária é o mínimo. Francisco Maturana, antigo selecionador e cérebro da primeira grande geração de "cafeteros" que capturaram a imaginação de todos nos Mundiais de 1990 e 1994, estudou a fundo o fenómeno: "Tem aí um mapa da Colômbia à mão? Observe a origem de todos os grandes avançados colombianos de agora e de antes. São todos da costa, onde há um biótipo muito particular. Usualmente, os 'costeños' [costeiros] são jogadores com fisionomia e mentalidades específicas. São guerreiros, muito fortes, competitivos, sofredores. Matam-se para ganhar. A isto somamos o elemento estético, que seduz - e os atletas de raça negra são ainda mais atléticos, duros. Há um biótipo especial e, além disso, todos têm propensão ofensiva. Na costa, todos os miúdos querem ser goleadores."
Rodrigo Larrahondo, anos a fio técnico de vários escalões da seleção colombiana, especialista em preparação física, corrobora a opinião do decano compatriota: "A teoria do 'costeño' não é um mito, tem uma explicação sociocultural. Trabalhei em todas as zonas da Colômbia, do litoral à zona dos Andes, na montanha, nas regiões mais selvagens. Na costa, as pessoas são mais alegres por definição, alimentam-se das grandes emoções. Ali, todos querem ser criativos, finalizadores, velocistas. Depois, tudo se resume a uma questão de os disciplinar."