Se a Catedral viu 15 mil adeptos moldar um ambiente tocante no último adeus de Eusébio, depois foi a capital que parou para se despedir do Pantera Negra
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Chega a ser difícil encontrar adjetivos para descrever o ambiente acolhido pelo Estádio da Luz na derradeira despedida de Eusébio à casa que durante tantos anos sempre lhe teve as portas abertas. Será difícil, por certo, encontrar alguém ontem ali presente que não tenha ficado arrepiado com a homenagem ao Rei e, quando se veem jovens e até crianças a chorar por um ídolo que andaram longe de ver atuar ao vivo também muito está dito.
Às 13h36, a urna de Eusébio deu entrada no relvado da Luz sob o olhar atento de toda a estrutura do clube, mas foram os adeptos afetos às claques - também eles a dar corpo à muita indumentária maioritariamente negra - que se apressaram em arrancar a digna dádiva ao Pantera Negra, entoando repetidamente o cântico "Tu és o nosso Rei, Eusébio! Descansa eternamente". Nem um dos cerca de 15 mil adeptos deixou de acompanhar com aplausos, e sempre de pé, viram a cerimónia ser também decorada com artefactos pirotécnicos e até petardos. A urna esteve depositada bem no centro do novo relvado por cinco minutos, mas foi na posterior volta às quatro linhas que a emoção se atirou para o rubro. Ao longe, Luís Filipe Vieira, Jorge Jesus, Rui Costa ou Shéu não continham a comoção, enquanto viam milhares de adeptos pelo menos tentar colocar um cachecol ou qualquer outro objeto em cima da viatura fúnebre. Depois do hino do Benfica ter sido cantado com cachecóis ao alto, foi "A Portuguesa" a surgir espontaneamente à saída do Pantera Negra da Luz.
Ao todo, não foram mais de 20 minutos, que se arrastaram depois para as ruas da capital. E se a Câmara Municipal de Lisboa prestou o seu tributo colocando 500 cartazes com a imagem de Eusébio - neles podia ler-se "Obrigado", enquanto a sede da FPF também exibe uma faixa gigante do Pantera Negra -, foram largos milhares os que saíram à rua para se despedir da glória. O cortejo fúnebre atravessou algumas das principais artérias lisboetas rumo a uma Praça do Município também repleta. Pelo meio, houve um pouco de tudo: quem corresse ao lado da urna, chorasse copiosamente ou apenas tentasse deixar ao Pantera Negra o seu último sentido adeus.
À espera de Eusébio estava o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, que acompanhado por vários responsáveis da edilidade deu também um forte abraço a Luís Filipe Vieira. Daí, a emoção rumou à Igreja do Seminário, no Largo da Luz, de onde viria mais tarde a partir para a última morada do Rei, no cemitério do Lumiar.