O Benfica aproveitou o deslize do FC Porto e carimbou em Vila do Conde a subida ao primeiro lugar
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A ideia não era chegar depressa. Era só chegar. Um Benfica mais contido do que é costume ver-se não fez da derrota do FC Porto, e consequente possibilidade de agarrar a liderança, uma injeção de adrenalina para embalar sem reservas no ataque a uma baliza do Rio Ave que até tinha inquilino novo. A ultrapassagem consumou-se com suavidade, sem correrias ou perdas de fôlego. Aliás, mais do que chegar a líder, a grande vitória do Benfica deste jogo talvez tenha sido essa: provar que o tempo de gigantescas festas antecipadas e desilusões proporcionais já lá vai e que a caminhada faz-se da mesma forma que a aprendizagem - um passo de cada vez. E um golo atrás do outro...
Por isso, quem esperava um espetáculo de encher o olho, com um Benfica avassalador e sempre de prego a fundo, surpreendeu-se. É bem provável que o mais surpreendido de todos tenha sido Nuno Espírito Santo, treinador de um Rio Ave que se alimenta do entusiasmo dos adversários para crescer em campo, o que ajuda a perceber melhor a dificuldade que tem para pontuar em casa por contraponto à relativa facilidade com que o faz fora. Apesar de dominarem desde o arranque, os benfiquistas começaram por fazê-lo a uma velocidade de cruzeiro, com linhas próximas e sem deixar espaços para contragolpes. O duelo centrava-se muitas vezes no meio, onde sobressaíam a disponibilidade de Matic e a capacidade de entretenimento de Diego. Tudo somado, dava zero.
Por outras palavras, não havia praticamente remates, nem aproximações às balizas. Estranhava-se um pouco, é verdade, que o Benfica não quisesse pelo menos testar os nervos de Ederson, carta que Nuno tirou da manga por opção. Uma escolha arriscada, porque Salin, o habitual titular, é um guarda-redes experiente e lançar o jovem Ederson às feras tanto podia ser um golpe de fé genial como um risco desnecessário. O brasileiro foi aquecendo as mãos sem dramas e a fé de Nuno ganhava algum fôlego, à medida que a fase crítica dos primeiros minutos corria sem sobressaltos.
O pior veio depois, já bem perto do intervalo. Ederson lançou-se a um cruzamento de Lima que parecia algo inofensivo, mas falhou. A bola ficou-lhe debaixo do nariz e à mercê do faro de golo de Rodrigo. Assim, quase sem rematar, o Benfica ganhava vantagem.
Um pouco mais espevitado na segunda parte, o Rio Ave também não precisou de rematar muito para empatar. Um cruzamento com a mesma aparência inofensiva, feito por Hassan, sobrevoou a defesa benfiquista e apanhou André Almeida numa descontraída soneca. Ukra só teve de acalmar o entusiasmo e rematar. Simples.
Então sim, o jogo parecia querer entrar numa definitiva prova dos nove. O Benfica tinha de procurar outra vez o golo e os vila-condenses acreditavam poder explorar o lado B desse crescimento, mas a ideia desabou em pouco mais de dez minutos: cinco para Lima marcar e a outros cinco para o Rio Ave ficar com dez. Um livre à entrada da área foi exemplarmente executado por Lima e, ainda que Bruno Paixão possa dar cabo dos nervos a um santo, Wakaso pecou ao protestar com ele, devido ao preciosismo com que marcou a distância da barreira na cobertura a esse livre. Uns minutos depois, o mesmo Wakaso foi obrigado a fazer uma falta merecedora de novo cartão, acabando por deixar a equipa em inferioridade numérica e sem argumentos para tentar a reação.
O Benfica cresceu naturalmente. Notava-se menos o papel muitas vezes redundante de Fejsa quando conjugado com Matic, que gosta de estar em toda a parte, mesmo na que compete a Fejsa; Enzo ganhou, enfim, margem para andar pelo meio e participar ativamente na construção de jogo, algo que não acontece quando colado à linha; Rodrigo e Lima continuavam a entender-se de olhos fechados. Moral da história: cruzamento do espanhol e bis do brasileiro.
A liderança estava oficialmente garantida.