Pela primeira vez o rendimento defensivo do Benfica de Jesus ultrapassa o do FC Porto, mas ainda assim só desde que o mercado de inverno forçou mudanças no onze dos encarnados.
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A percepção de que o Benfica mudou de cara esta temporada, trocando a vertigem ofensiva das últimas épocas por uma abordagem mais disciplinada e pragmática só é parcialmente verdadeira. Na realidade, a época dos encarnados pode dividir-se mais ou menos a meio, entre o antes e o depois das mudanças precipitadas pelo mercado de inverno. De resto, ao contrário da perceção geral, o impacto destas foi muito mais sensível ao nível da eficácia defensiva, dando corpo à máxima que assegura que se os ataques ganham jogos, as defesas ganham campeonatos.
A saída de Matic para o Chelsea, em janeiro, foi vista na altura como uma ameaça à coesão do meio-campo encarnado, onde o sérvio se tinha tornado uma referência incontornável. Contudo, uma análise às estatísticas dos encarnados revelam que a equipa de Jesus saiu a ganhar bastante mais com a troca por Fejsa do que apenas os 25 milhões de euros que os londrinos pagaram pelo compatriota.
Um relance pelos números revela a evidência de um antes e um depois de janeiro para os encarnados: dos 15 golos sofridos no campeonato até agora, 12 aconteceram nas primeiras 14 jornadas. Desde que Fejsa se instalou à frente dos centrais e desde que Rodrigo e Lima se fixaram no ataque, o Benfica sofreu apenas três golos, registando um total de oito jogos sem qualquer golo sofrido. De resto, a significativa melhoria na eficácia defensiva do futebol encarnado percebe-se também na análise aos remates consentidos. Até janeiro, a média rondava os nove por jogo, muito perto dos mais de dez que a equipa consentiu aos adversários na última temporada. Valores que baixaram nas últimas dez jornadas para perto de metade: um pouco mais de cinco remates consentidos aos adversários por jogo. Aliás, o mesmo efeito pode ser verificado ao nível dos cantos : na última época, a média rondava os cinco cantos consentidos por jogo; nas últimas dez jornadas, baixou para perto de dois. A conclusão óbvia é a de que o Benfica controla muito melhor os adversários agora, correndo menos riscos e mantendo-os mais longe da baliza de Oblak. Com isso, consegue, pela primeira vez, ultrapassar rendimento defensivo do FC Porto com efeitos devastadores na classificação.
Há um ano, por esta altura, os portistas tinham sofrido 11 golos no campeonato. Esta época já sofreram 18 e isso apesar de até consentirem, em média, menos remates aos adversários: 6,96 este ano contra 9,21 na última época. Ou seja, tal como já todos tínhamos percebido, marcar ao FC Porto tornou-se bastante mais fácil este ano.
Junte-se a estes os números relativos ao ataque, e as diferenças acentuam-se mais um pouco. Sendo verdade que as duas equipas marcam menos golos, rematam menos vezes e têm menos cantos do que na última época, o facto é que os encarnados são mais eficazes: 16,4 por cento de eficácia remate/golo contra os 11,7 por cento dos portistas. Depois, mesmo rematando e marcado menos do que na última época, o Benfica apoia-se na eficácia defensiva para garantir um rendimento semelhante: apenas mais uma derrota, sofrida logo na primeira jornada do campeonato; o FC Porto sofreu mais cinco.