Maior transferência da história do futebol mexicano, o médio esteve para sair a custo zero do Pachuca. Perdido na filial Tampico Madero, ia ser dispensado até que Efraín Flores se lembrou de o observar. "Deu-me o dobro", diz o treinador, que também lançou Rafa Márquez
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Durante semanas, Héctor Herrera era o jogador mais caro de sempre a competir na II Liga portuguesa. Campeão olímpico, saltou de um Brasil-México da Taça das Confederações (visto em Fortaleza por mais de 60 mil pessoas), para quatro jogos do FC Porto B cujas assistências variaram entre os 300 e os 900 espectadores. Nem aí, nem nos treinos, nem quando Paulo Fonseca o deixou a ganhar raízes no banco, se lhe viu um ar de enfado, um sinal de desespero pelo prolongar de uma adaptação que, face à saída de Moutinho, muitos julgariam poder ser tiro e queda.
Herrera, que em menos de dois meses de época oficial chegou ao onze em Arouca, não esteve nem perto de reviver o período mais indefinido da sua carreira, quando o sonho de ser futebolista parecia esbarrar na dispensa do Pachuca e na necessidade de sustentar uma família. Se lhe falarem em dificuldades, não é o arranque tremido no FC Porto que lhe virá à memória, mas uma história com pouco mais de dois anos e que o treinador Efraín Flores pode contar melhor do que ninguém. "No verão de 2011, o Héctor estava na lista dos jogadores que iam sair do clube", revela, recordando essas semanas em que, recém-nomeado pela equipa principal dos Tuzos, decidiu espreitar o que se passava na "filial" da Liga Ascenso (segundo escalão). "Ele estava no Tampico Madero [a quatro horas de viagem] e nem sequer jogava muito. Como tínhamos alguns jogadores a completar a sua formação e sobre os quais era preciso tomar decisões, marquei um torneio quadrangular no final da época e uma das equipas que chamei foi a do Tampico Madero", relata.
Herrera tinha feito 11 jogos durante 2010/11. Aos 21 anos, casado e à espera do primeiro filho, o que ganhava no futebol não lhe pagava as despesas nem o recompensava pela distância de quase três mil quilómetros para a Baja California, estado de que era natural, na fronteira com a costa oeste dos Estados Unidos. "Quando o conheci, vi um rapaz desmotivado e que estava a pensar em deixar o futebol. Era o fim de um ciclo: ou era promovido à equipa principal ou não conseguiria mais do que um contrato numa divisão inferior. Naquela altura, a falta de dinheiro e a distância de casa deixaram-no numa situação limite", explica Efraín Flores.
O treinador teve uma conversa com o plantel do Tampico Madero antes do torneio, mas o que viu em campo convenceu-o sobre o habitual suplente da segunda equipa. "Vi atributos muito interessantes. Percebia-se que o Héctor jogava ali uma última oportunidade, que tinha algo a agarrar. Tinha de ganhar a vida e deu o dobro dos outros, mas reparei nele também pela inteligência a jogar, movimentava-se bem e era atrevido, tomava boas decisões. Para além disso, conheço a mentalidade das pessoas da Baja California, têm atitude e reagem muito bem às adversidades, está-lhes no sangue. Decidi ficar com ele", justifica, antes de deixar recado: "O clube tratou-o mal. Não o trabalharam, mandaram-no para longe e ficou à sua sorte. Podíamos ter perdido um craque."
No FC Porto, aconteceu o oposto. Paulo Fonseca não lhe deu a titularidade numa bandeja, mas ao sugerir-lhe a equipa B, num gesto que para o exterior soou a despromoção, acabou por acelerar a sua entrada na equipa. A chamada para o jogo em Arouca não significa o fim do sacrifício, mas essa é uma história que Herrera conhece como poucos...