O Benfica garantiu uma vantagem que aponta à redefinição de objetivos. Porque o caminho para os "quartos" da prova foi desbravado, com os jogadores a mostrarem que também querem ir longe na Europa. E fizeram-no frente a um rival que se assumiu como candidato à conquista da competição
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Foi com uma atuação personalizada, de grande eficácia, e um capitão a indicar o caminho, que a equipa da Luz mostrou estar com os olhos também postos no prestígio inerente à montra da Liga Europa. E se Jorge Jesus já deu um primeiro sinal, com a poupança de apenas quatro habituais titulares - Maxi Pereira, Enzo Pérez, Gaitán e Lima -, os jogadores gritaram bem alto a sua ambição. Não só superaram a tensão, pressão e capacidade física do Tottenham, como mostraram ainda não ter nos planos abdicar da ambição de ir longe na competição, tendo ontem dado um passo de gigante rumo aos quartos de final frente a um adversário que viu atropeladas a sua nova prioridade europeia, ao ver terminado um ciclo de 11 jogos sem derrotas em casa e, para a história, a primeira vez que sofreram três golos no White Hart Lane desde... 1967.
A exibição encarnada e, sobretudo, o inatacável triunfo, aliado à confortável vantagem já garantida no campeonato nacional, deixam também em aberto a possibilidade de outros objetivos mais ambiciosos serem agora traçados. Os adeptos até podem dar prioridade ao título de campeão, mas há mais quem queira ultrapassar essa fronteira e galgar obstáculos na Europa. A começar até pelo próprio Jorge Jesus, que cumpriu o prometido ao poupar apenas quatro titulares, ao contrário dos sete que havia deixado à margem da eliminatória com o PAOK, mesmo que o discurso do treinador pareça mais dirigido para o exterior.
Prevendo maiores dificuldades ante o Tottenham, uma equipa que até anda melhor desde que André Villas-Boas foi despedido em dezembro, o técnico dos encarnados tomou várias decisões que sublinham as suas "dúvidas" para o que falta da época. Se Artur foi chamado para o PAOK, agora foi o titular Oblak o guardião, protegido por um quarteto com apenas Sílvio como novidade, surgindo o não menos titular Fejsa logo à frente. Rúben Amorim "poupou" Enzo Pérez, Sulejmani deixou Gaitán a descansar e Cardozo deu folga a Lima. E tudo o resto se resume ao onze de gala de Jesus, que é elástica na concentração de linhas em situação defensiva, mas também estica rapidamente o jogo no ataque à baliza adversária, como se viu frente ao quinto classificado da liga inglesa, que agora aponta(va) baterias à conquista da Liga Europa.
Do embate frontal entre dois adversários que apresentaram o mesmo 4x4x2 resultou um início de jogo confuso, embrulhado mesmo, sem grandes motivos de destaque, que passou depois a uma fase de ascendente dos ingleses. O Tottenham começou a apostar nas deambulações de Adebayor, nas acelerações de Lennon e nas diagonais de Eriksen, criando um efeito de pressão que chegou a ser quase sufocante para a defesa da Luz. Mas este período durou pouco mais de 15 minutos (entre os 10 e os 25) e terminou quando Rodrigo embalou rumo à baliza e deixou os spurs boquiabertos, com a bola no fundo das redes. A tal estratégia elástica do Benfica voltava a funcionar, as linhas recuaram e, num ápice, soltaram-se para lançar o golpe no último reduto contrário, ainda ferido no seu orgulho pela recente goleada sofrida ante o Chelsea e pelas críticas duras do seu próprio treinador.
Com o gigante Luisão a mandar na defesa, Fejsa a partir pedra no miolo e Amorim com a batuta, o Benfica reassumiu o controlo das operações e nunca mais o perdeu, frente a um adversário sem ideias, sem automatismos ou argumentos à altura dos 122 milhões de euros - contra os 36 do emblema da Luz - que investiram em reforços para a época em curso. Na segunda parte, o capitão dos encarnados fez valer o seu 1,93m para mostrar que este Benfica chega e sobra para este Tottenham, que ainda reduziria - só o conseguiu de livre direto porque em futebol corrido nada mostrou -, antes de, já com Gaitán e Enzo Pérez em campo e a dar o seu cunho de qualidade ao futebol encarnado, as águias, novamente por Luisão, engordarem um resultado que até poderia ter números mais expressivos.