Por todo o mundo celebrou-se a conquista encarnada e, no centro da cidade, a máquina organizativa elevou as festividades ao patamar da excelência. Nem a estátua escapou à camisola vencedora
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Arrasadora a celebração encarnada, um pouco por todo o mundo, pela conquista do 33º campeonato nacional, ontem, após o triunfo frente ao Olhanense num Estádio da Luz cheio. O epicentro das celebrações foi o Marquês de Pombal, com música em decibéis tão elevados como os voos que a águia tem feito na presente época. Os adeptos presentes, mais de 200 mil, não deixaram os seus créditos por mãos alheias no que à prova do fervor clubístico diz respeito, demonstrando, muitos deles em estado quase hipnótico, uma enorme paixão quando o autocarro com os jogadores, equipa técnica e "staff" de apoio chegou, já perto da meia-noite, ao Marquês de Pombal. O percurso pelas artérias de Lisboa foi acompanhado por muitos que, ladeando o veículo, já não encontraram espaço junto à estátua no ponto mítico da capital, mas a explosão de alegria deu-se momentos antes de ouvirem o discurso do presidente Luís Filipe Vieira.
A festa foi preparada com tempo e de forma metódica pelos dirigentes do Benfica, que nada descuraram no sentido de potenciar a marca do clube e o feito alcançado. Horas antes do jogo, já depois de várias tarjas com a palavra "reservado" terem sido espalhadas pelos quatro cantos do mundo - de Lisboa a Maputo e Luanda, passando por Paris, Londres, Roma, várias cidades portuguesas, com o Porto à cabeça, Rio de Janeiro... -, foram instalados dois ecrãs gigantes na praça do Marquês de Pombal e um sistema de som digno de um qualquer grande concerto para receber adeptos e jogadores. A festa prometida foi ganhando força nas centenas que se foram juntando para acompanhar o desafio pelos ditos ecrãs. Findo o encontro, com o hino do Benfica a ser tocado regularmente, com muita música eletrónica e evocações a Eusébio e Mário Coluna - referências míticas do clube e do futebol luso que faleceram no corrente ano -, os milhares de adeptos foram aumentando, sempre ao som do "somos campeões" ou "o campeão voltou". Os jogadores encarnados, ainda no Estádio da Luz, depois das celebrações no relvado e balneário, entraram num primeiro autocarro, mudando depois para o que os levou ao Marquês, enquanto os familiares seguiram num segundo, ambos descapotáveis. O cortejo, com muita euforia e cerveja à mistura, teve de tudo. Rúben Amorim virou repórter, com microfone nas mãos a entrevistar colegas, jogadores dançaram com coreografias extravagantes, o próprio Jorge Jesus andou aos saltos, de cachecol vistoso. Até Sílvio, de muletas, festejou na medida do possível. O autocarro, esse, devidamente guardado pelas forças de segurança, encontrou obstáculos pela frente, um semáforo prendeu a parte cimeira da carroçaria e foram os jogadores, entre eles Artur, a resolver a questão.
A euforia foi geral, vídeos e fotografias foram sendo recolhidos pelos atletas para a posterioridade, que o diga Siqueira; o brasileiro captou tudo o que conseguiu com a sua câmara, enquanto intercalava as filmagens com cantares brasileiros partilhados com Rodrigo. No Marquês de Pombal, a entrada foi apoteótica: os fumos, os foguetes, as bandeiras e os cachecóis ao alto foram proeminentes e o inferno tinha acabado de ser transferido da Luz. Até o próprio marquês de Pombal se vestiu de vermelho.
O "speaker", incansável na animação da noite vermelha e branca, puxou pelos adeptos e os jogadores corresponderam, chegando mesmo a descer do autocarro para junto dos adeptos que aguardavam pelos seus ídolos. A dançar, saltar ou com quaisquer outros movimentos associados, os benfiquistas foram vibrando.
O plantel, esse, regressou à Luz pela noite dentro, na certeza de que o dia de hoje já terá a Juventus na ementa. Quinta-feira há novo duelo na catedral encarnada, para mais uma etapa de um sonho que no ano passado acabou na final da Liga Europa, frente ao Chelsea. Atirar os italianos para fora da sua final de Turim é o objetivo que se segue, antes da final da Taça de Portugal com o Rio Ave - um troféu que Jorge Jesus persegue, pela conhecida ligação que tem com o mítico Jamor -, aquelas que podem ser vistas como as atuais prioridades, entre as quais a Taça da Liga perde espaço, mas não tira ambição.