O Benfica foi mais consistente, organizado e solidário a defender com Enzo Pérez e Matic no miolo. Cardozo começou no banco, mas foi decisivo, apontando o golo da noite contra uma equipa que não demonstrou desgaste europeu
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Muito pressionado pelos últimos resultados, o Benfica acabou por passar no teste da Amoreira. Este fato fica-lhe melhor do que os anteriores, mas ainda é justinho, é preciso encolher bem a barriga para vestir as calças. O exame foi difícil e a nota positiva só caiu depois de o árbitro ter apitado para o fim; até lá, os corações encarnados estavam em suspenso.
Jorge Jesus fez quatro alterações em relação à equipa que apresentou na noite medíocre de Paris e o Benfica foi mais sólido a defender, não caiu na vertiginosa tentação de atacar de forma desmedida depois de ter marcado, aos 10', através de Lima, teve capacidade de sofrimento na parte final do desafio, foi humilde (queimou tempo e até Artur viu um cartão amarelo por causa disso) e garantiu os três pontos num jogo determinante para a equipa não apenas em termos desportivos - não podia deixar fugir mais o FC Porto, que ganhou ao Arouca -, mas também anímicos, o que nesta fase é determinante, depois dos deslizes com Belenenses e Paris Saint-Germain. O treinador também ganha outra margem de manobra vencendo num estádio em que um rival direto perdeu pontos. Por outro lado, tratou-se de uma pequena vingança depois do que se passou na Luz na última temporada, quando os canarinhos, com um empate, incendiaram a discussão do título, que parecia pender para os encarnados e acabou nas mãos do FC Porto.
Ontem, o Estoril perdeu, cometeu alguns erros durante o desafio, mas continua a mostrar força e o tom da avaliação ao conjunto de Marco Silva tem de ser este, porque os seus jogadores deixam a pele em campo e sabem perfeitamente qual a sua missão. Depois do desgaste provocado pela jornada europeia da última quinta-feira, apresentar um futebol tão solto, intenso, jogado olhos nos olhos com um adversário que tem naturalmente outras armas, é obra. Mais: obrigar o Benfica a recuar no terreno e defender o resultado com menos um elemento em campo não está ao alcance de qualquer um. Há muito trabalho dos jogadores e muita coragem do treinador.
Encostado às cordas, Jorge Jesus tentou surpreender regressando à fórmula do ano passado, com Matic e Enzo no miolo. O próprio tinha avisado que isso iria acontecer pouco depois de ter sucumbido diante do Paris Saint-Germain. No ataque, Rodrigo foi o companheiro de Lima, ficando Cardozo a observar o desempenho dos colegas a partir do banco de suplentes. Percebeu-se a intenção. O técnico tentava explorar a velocidade do hispano-brasileiro para romper uma defesa que, previa-se, iria ceder devido ao desgaste do compromisso europeu a meio da semana. Puro engano: os canarinhos tiveram pilhas até ao fim. Maxi Pereira e Markovic também regressaram ao onze para tomar conta do corredor direito, embora o sérvio nem tenha tido tempo para aquecer devido a uma lesão logo aos 27'. A solução encontrada por Jesus para este jogo funcionou bem em termos defensivos. A equipa foi mais organizada e rápida a chegar à bola com Matic e Enzo no meio e saiu para o ataque com outra segurança. O ascendente só não ganhou outros contornos durante os primeiros 45' porque Lima esbanjou uma grande penalidade.
Fiel ao 4-3-3 habitual, Marco Silva não baixou os braços e respondeu sempre na mesma moeda. O tridente atacante composto por João Pedro Galvão, Luís Leal e Sebá (todos de qualidade acima da média) deu água pela barba aos defensores do Benfica. Tanta que Jesus, perspetivando certamente um cenário complicado, chamou a jogo Óscar Cardozo. O Tacuara não se fez rogado e cerca de 10' depois de entrar rematou imparável para o segundo golo encarnado (ver o momento do jogo). Pensou-se que a partida estaria resolvida, ainda por cima com as águias em superioridade numérica devido à expulsão de Filipe Gonçalves. Mas não foi assim. Marco Silva ainda tinha Balboa e o antigo jogador do Benfica provocou desequilíbrios, reduzindo de cabeça logo a seguir. Os últimos minutos foram de grande intensidade e pressão, Maxi Pereira viu o segundo amarelo mesmo ao cair do pano, mas o Benfica segurou os três pontos.