McCarthy em entrevista
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Na última vez em que falámos com McCarthy, há dois anos, o ex-FC Porto ainda jogava na África do Sul. Ontem atendeu-nos de Edimburgo, na Escócia, onde vive há ano e meio. Deixou os relvados mas continua atento ao clube que lhe deu um título europeu. Num Português fluido e até com termos mais populares, analisou a crise portista à luz da última época que fechou com uma simples Supertaça. McCarthy estava lá...
Tendo passado por uma época muito similar a esta, já que em 2001/02 o FC Porto também só venceu a Supertaça, que ambiente adivinha que o clube atravesse neste momento?
Para o FC Porto, não ganhar é um pesadelo. Há anos em que nada corre bem e este parece ser um deles. Não dá para comparar, mas escolher bem o treinador será fundamental. Eu ainda cheguei com o Octávio [Machado], que não estava a ter resultados, e, ao escolher bem o substituto, Pinto da Costa acabou por salvar o clube. Não ganhámos logo nessa época, mas deu-se confiança a quem a merecia e carta branca ao treinador para escolher os jogadores dele.
Há alguma fórmula interna para reagir a insucessos destes?
Se calhar, este foi um ano de mudança. Parece um FC Porto a começar de novo, porque saíram muitos jogadores e jogadores importantes. Da equipa que ganhou tantos títulos nas últimas temporadas, já não sobram muitos jogadores e não é fácil perder os melhores. O que me parece é que falta estabilidade e, quando assim é, torna-se muito complicado. Nem todos os anos podem ser especiais.
A estabilidade parece estar esta época do lado do Benfica.
Pois está. Vi alguns jogos do FC Porto, sobretudo na Liga Europa, e a equipa parecia bem, mas depois vieram as decisões e aí viu-se a importância de ter jogadores que joguem juntos há três ou quatro anos; isso é que fez a diferença. O FC Porto tem de se reforçar, claro, acertar no treinador e no plantel, mas também tem de parar de vender os melhores jogadores todos os anos. O dinheiro não é tudo. De certeza que há no plantel quem valha mais do que mostrou esta época; há que dar confiança a esses e escolher reforços que façam a diferença.
De que forma é que, em períodos destes, os jogadores sentem a pressão de voltar a vencer?
Os adeptos não perdoam anos destes. Estando o Benfica como está, imagino o ambiente. Acho que a pressão para ganhar vai ser muito grande na próxima época, porque perder e ver o grande rival a festejar custa muito aos adeptos - ficam putos. O clima deve ser péssimo.
Olhando para o plantel, faltam referências como as de antigamente?
Não o conheço assim tão bem, vejo sobretudo os jogos internacionais. Não acredito que os jogadores não sintam o clube, acho que isso não existe. Se derem confiança e estabilidade a este grupo, acabarão por colher os resultados.
Sendo assim, qual é a receita?
Bons jogadores, craques. E um treinador que saiba tirar o melhor deles, que os faça render. O futebol há de ser sempre isto.