"É pena que não haja imagens suficientes para que a gente nova perceba o que é ser Pavão"
Declarações de António Oliveira na a inauguração da exposição temporária sobre Pavão
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António Oliveira esteve presente na inauguração da exposição temporária sobre Pavão, figura mítica do FC Porto falecida há precisamente 50 anos.
"Sinto-me um privilegiado em falar de um jogador com a dimensão do Pavão. O Pavão, só para terem noção, foi o meu primeiro colega de quarto. Quando iniciei a carreira no FC Porto, os meus colegas eram o Pavão e o Custódio Pinto, infelizmente já faleceram os dois. O Pavão foi sempre grande referência para mim. Pelo trato, caraterísticas, pelo exemplo que dava, a raça... Era Porto, mesmo. Ainda que fosse de Trás-os-Montes, encarnou efetivamente o espírito. Foi um grande capitão que o FC Porto teve e passou essa mensagem. A partir daí, as coisas ficaram mais facilitadas. As últimas palavras dele foram para mim: 'Vai miúdo'. Isto é uma coisa que me martela saudavelmente. Triste, por ele ter morrido, mas é uma pessoa que nunca poderei esquecer, pela relação que tinha com ele e pela amizade, exemplos e conselhos que dava. Não é toda a gente que tem um busto ou representação no Museu do FC Porto. Há um motivo. Não era por ser bonito, feio, alto ou baixo. Foi porque representou o verdadeiro ADN portista, o Portismo, a raça, personalidade... Numa época extremamente difícil. Era o único a ir à Seleção, as escolhas preferenciais eram sempre por gente de Lisboa. Teve muito valor, foi uma pena, aconteceu. Tenho presente a imagem de tudo o que aconteceu. Faço-lhe a minha homenagem com presença simples e humilde. Uma pessoa de referência Porto, que é eterna. Pavão só há um", começou por dizer.
"O Pavão disse-me 'vai miúdo', o miúdo foi e quando chegou à linha para dar um golo, vi que toda a gente tinha parado e nem me tinha apercebido. Fiquei com a imagem de que tinha acontecido alguma coisa... Fiquei junto ao banco, preferencialmente gostava de estar ali, onde fazia uma sombrinha. Apercebi-me de que tinha acontecido algo. Curiosamente, posso acrescentar um pormenor: o Dr. Vitorino Santana disse-me que o Pavão tinha morrido ao intervalo e pediu-me para não contar a ninguém. Naturalmente, brotaram-me as lágrimas, não consegui viver sozinho aquele drama e comecei a espalhar a notícia", continuou, concluindo de seguida:
"Ele jogava hoje... Jogava, não tenho qualquer dúvida. Foi sempre um jogador exemplar. É pena que não haja imagens suficientes para que esta gente nova perceba o que é ser Pavão, que é ser Porto. Estou a dizer isto porque é verdade. Não é para engraxar. Foi sempre a minha referência, até como capitão. Interventivo, ao serviço do coletivo, em defesa da equipa... Extraordinário. Hoje jogaria em qualquer parte do mundo, não precisando de ser fora do FC Porto, que já é uma equipa enorme. Seria uma das maiores transferências, não tenho dúvidas."