O Paços de Ferreira ganhou e conservou os quatro pontos de vantagem sobre o Braga. Faltam dois jogos e o sonho de garantir a presença na Liga dos Campeões ganhou novo fôlego. A luta europeia do Sporting não ficou comprometida
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Pergunta para dois milhões de euros: seria o Paços de Ferreira capaz de aguentar a pressão de fazer história? Com o bafo no Braga no pescoço e forçado a enfrentar o fôlego renovado do Sporting, a resposta pacense ficou sujeita a alguma turbulência, tardou um pouco, mas acabou por chegar com firmeza. Sim, aguenta. A um pequeníssimo passo de encher os bolsos numa competição de gente grande, vai enchendo também de orgulho adeptos que descarregaram a adrenalina cantando alto e bom som no final do jogo: está na hora de o Paços ir à Champions.
Essa hora fez-se de minutos longos. Talvez para disfarçar a ansiedade, os pacenses forçaram uma entrada pausada, como que querendo provar que os nervos estavam controlados, mas essa calma virou moleza e, num piscar de olhos, havia mais Sporting em jogo. É fácil explicar porquê: a intensidade de Schaars e André Martins impedia Luiz Carlos e André Leão de avançarem e, mais importante ainda, quebrava a ligação dos dois com Vítor, que acabou isolado na sombra de Rinaudo e sem apoios para comandar qualquer tipo de desequilíbrio. A ajuda de Josué, que gosta de terrenos interiores, não foi suficiente para contrabalançar o jogo de forças e o ataque pacense acabou reduzido a meia dúzia de acelerações espontâneas de Hurtado. Era pouco.
Do outro lado, além de Miguel Lopes, que tinha corredor livre para explorar porque Josué não é de andar colado à linha, havia Bruma e Capel a carregar no acelerador, deixando Tony e Diogo Figueiras em sentido. Não que é os leões tenham sido muito mais perigosos na primeira parte, mas, por estarem mais compactos, conseguiam aproximar-se com facilidade da baliza de Cássio, ainda que este, ironicamente, só tenha suado a valer quando um atraso de Ricardo o deixou atrapalhado, travando com as mãos o que os pés não tinham conseguido despachar à primeira. Pedro Proença considerou que o brasileiro defendeu o atraso do companheiro, e marcou um livre que mais parecia um penálti com onze guarda-redes: Rojo encheu o pé e Hurtado encheu-se de coragem, dando o corpo à bala para evitar um golo que parecia certo.
A segunda parte começou como a primeira: apesar de estar apenas uns metros mais à frente, Vítor continuava a uma distância de quilómetros dos outros dois médios. O Paços arriscava ser uma colagem sem sentido, porque no meio havia mais Sporting. Houve até Jesualdo Ferreira tirar André Martins, sobretudo este, e Schaars. É provável que o professor tenha temido o desgaste de ambos, além de querer libertar Bruma para fazer estragos noutras zonas, mas, coincidência ou não, foi depois das entradas de Viola e Adrien que os pacenses ganharam margem para respirar. Luiz Carlos avançou uns metros e tornou-se um gigante, engolindo espaço e soltando as amarras para o Paços apresentar outra firmeza no ataque. No jogo de bancos, Paulo Fonseca apostou na velocidade de Caetano e Jesualdo juntou Carrillo à equação da frente.
Mais soltos, como já se disse, e com Luiz Carlos a crescer em campo, os pacenses ganharam direito à felicidade plena num lance de bola parada, depois de uma falta de Rinaudo. Na marcação do livre, Josué acertou no poste, mas a defesa do Sporting foi lenta a reagir e Tony apareceu bem a cabecear para o golo.
O Paços jogou então sem máscaras. Estava nervoso, sim senhor, mas tinha garra para dar e vender. Tinha também Cássio, que fez duas grandes defesas a evitar o empate. Os adeptos da casa cantavam que estava na hora de Proença acabar o jogo, que estava na hora de o Paços ir à Champions. Os segundos pareciam minutos e os minutos pareciam horas que não passavam. Mas passaram e os jogadores pacenses festejaram aos saltos. A Champions ainda não está garantida, mas o Paços deu a melhor resposta para o que ainda falta: aguenta a pressão. Sem dúvida.
