Equilíbrio com armas diferentes. O Sporting foi mais e melhor equipa, o Benfica fez-se valer da qualidade individual dos seus jogadores para arrancar um ponto em Alvalade. Markovic, de novo a sair do banco, justificou a fortuna que pagaram por ele
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Sporting e Benfica empataram ontem no primeiro clássico da época, um jogo cheio de eletricidade estática, à antiga, e que não desiludiu ninguém que tenha estado em Alvalade, um estádio que se pintou com um entusiasmo renovado e muita crença no futuro. O leão, mais jovem e com toda a confiança do mundo, bateu-se olhos nos olhos contra uma águia com armas muito mais mortíferas. Uma delas, a mais cara deste defeso, saltou do banco para, num lance de génio, dar o empate aos encarnados - os 10 milhões que Markovic custou já começam a ser pagos. Sem reforços destes, o Sporting foi, pelo menos, tão bom como o Benfica - às vezes até muito melhor. Fruto da organização e da união de uma equipa que cresce de jogo para jogo. E isso é o melhor elogio que se pode fazer ao trabalho de Leonardo Jardim. A equipa da casa não ganhou o dérbi, mas talvez tenha ganho algo muito mais importante para o futuro do próprio clube: voltou a ser grande. Na forma como os adeptos acreditam nela, na forma como se bate com os rivais e até na bravura com que os jogadores enfrentam picardias.
Jardim manteve a promessa e não mexeu uma vírgula naquilo que tem sido a história deste Sporting, lançando o onze que todos antecipavam. Já Jorge Jesus furou todas as previsões de "ic" e apostou em Rodrigo para o apoio a Lima, deixando o fantasma de Cardozo a pairar nos adeptos da casa desde o banco de suplentes. Na época passada, o paraguaio decidiu o dérbi de Alvalade, com dois golos e meio, e depois de toda a novela, parecia que o destino estava à espreita para pregar uma partida aos leões.
Os primeiros minutos do Sporting foram sufocantes. Tal como tantas vezes tem acontecido desde que Jesus chegou ao Benfica, as águias foram incapazes de combater um meio-campo composto por três unidades agressivas na luta pela posse de bola. William Carvalho, Adrien e André Martins fizeram uma espécie de rolo que foi passando por cima de Matic e Enzo Pérez, de menos para tanto trabalho. Depois, na zona das decisões, os leões procuravam fazer tudo depressa, sem cerimónias. Ganharam uma série de cantos, mantiveram o jogo no meio-campo contrário e, numa perda de bola das águias em transição ofensiva, marcaram. Tudo simples, com Montero a mostrar "coisas" de Liedson: recebeu ao centro, entregou a André Martins na direita e fugiu para o segundo poste, para as costas de Luisão, ficando sozinho para, de cabeça, confirmar a tendência para ser matador em clássicos.
Forçado a fazer duas substituições ainda na primeira parte, o Benfica viveu quase sempre da qualidade individual dos seus futebolistas. Nos primeiros 45', apenas o talento de Gaitán conseguiu causar problemas ao Sporting, pelo que se percebia o desespero de Jorge Jesus quando viu o argentino pedir para sair logo a abrir a segunda parte. Sem nada a perder, o técnico chamou Cardozo. De um momento para o outro, ficou a jogar com quatro avançados - o paraguaio juntou-se a Lima, Rodrigo e Markovic. Matic e Rúben Amorim ficaram sozinhos no meio-campo, mas chegaram e sobraram, até porque tanta gente na frente obrigou o meio-campo do Sporting a baixar.
Jardim procurou tapar os buracos para a baliza, com Dier, mas a pressão contrária não parava. Markovic empatou e a partir daí o jogo partiu-se, muito por culpa da quebra física de vários jogadores. Sem mais possibilidades de corrigir a equipa com substituições, Jesus mostrou-se contente com o empate e permitiu o crescimento do Sporting na fase final, com Jardim a colocar Capel e Slimani. O jogo acabou como tinha começado: com vários cantos a favor dos leões. Apesar disso, voltou a acabar como tinha começado: empatado.