Cardozo fechou a primeira parte com um hat trick (3-1) e só depois dos 60' é que a superioridade do Benfica foi posta em xeque pelo Sporting. Ressurreição (3-3), prolongamento, falha grave de Patrício e... morte dos leões. Uff!
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Até aos 62 minutos de jogo, a história deste dérbi era uma: o Benfica, agora que o seu treinador deu o braço a torcer a um 4x3x3 dinâmico que, tornou a demonstrá-lo, melhor congrega os recursos do seu plantel, foi mais forte, agressivo e decidido no meio-campo, espreguiçando essa intensidade no relvado, com impacto estrondoso na finalização. A noite era - ou parecia ser - de Cardozo, que selou a primeira parte com um hat trick histórico, iniciado na conversão de um livre direto em que fez a bola passar por baixo de uma saltitona barreira do Sporting. Capel ainda deu troco (1-1) numa tímida reação dos visitantes, mas o goleador dos encarnados é que lançava os foguetes e promovia a festa. A qualificação das águias para a quinta eliminatória da Taça de Portugal tinha todo o ar de estar segura, porque os instantes iniciais do segundo tempo não desmentiram a inclinação dos acontecimentos, mas no outro lado do campo havia ainda um leão capaz de mobilizar os seus para a revolta e partir em busca de um desfecho épico: foi Adrien quem ressuscitou a equipa leonina com o tiro frontal que forçou Artur a ceder o canto do qual - batido pelo pé direito do mesmo Adrien - resultaria o 3-2. E aí vieram à tona as fraquezas do Benfica nas bolas paradas, repetidas mais tarde, nos descontos, com Adrien a cobrar um livre lateral para Slimani cabecear para o 3-3 e decretar a ida para prolongamento. E aí, quando se admitia que pudesse haver mais Sporting pela diferença de frescura física ditada por uma agenda competitiva menos preenchida, Rui Patrício, culminando um lance em que a defensiva verde e branca repetiu ingenuidade e passividade vistas noutros momentos do duelo, deixou escapar uma bola mansa - cabeceada em queda por Luisão à entrada da pequena área - e, com um erro grave, permitiu que o dérbi se decidisse pelo meio das suas luvas (4-3).
Convencido pelo desempenho do Benfica na partida de Atenas frente ao Olympiacos, Jorge Jesus replicou o onze neste confronto a eliminar, com uma exceção: André Almeida rendeu Maxi Pereira na lateral direita, uma vez que o uruguaio teve de se juntar à sua seleção. Mas foi na zona intermédia que os da casa começaram por impor a sua lei, fruto da densidade e do equilíbrio determinados pela combinação de Matic, Enzo Pérez e Rúben Amorim. Os jogadores sentem-se mais à vontade neste sistema, que se desconjunta e destapa menos, e comprovaram-no, controlando e dominado o jogo, com e sem bola. O Sporting, também montado em 4x3x3, padecia de um problema na zona central do miolo, pois André Martins era mais segundo avançado (no apoio a Montero) do que terceiro médio-centro, variação que deixava William Carvalho e Adrien em inferioridade numérica (e em apuros) perante os opositores diretos. Nos lances de um para um, Capel, com melhores argumentos técnicos, poderia esburacar melhor à esquerda do que Wilson Eduardo no lado contrário, mas a verdade é que na etapa inicial os leões tenderam a atacar pela direita, de onde, aliás, saiu mesmo o cruzamento para o golo de... Capel, no primeiro ataque de corpo inteiro burilado pelos verdes e brancos.
A resposta leonina ao golo de Cardozo ocorreu aos 37', mas não tirou corrente ao Benfica, que tinha Markovic a acelerar na direita e a movimentar-se ainda para o eixo ofensivo, onde acompanhava o matador de serviço. E o que mais se pode dizer desta equipa que Jorge Jesus organiza num sistema diferente é que a obsessão dos flancos (do 4x4x2) é substituída pela propensão de resolver as dificuldades - ou também contribuir para isso - explanando jogadas pelo corredor central, para onde fletia igualmente Gaitán. Com isto, o Benfica é menos previsível. E foi pela ala central que, aos 42' e 44', forçou o adversário a errar e a conceder espaços fatais, armando situações de finalização que um Cardozo inspiradíssimo - e esteve ele em dúvida para este encontro... - transformou em golos.
A reação a sério do Sporting, já descrita, além de expor vulnerabilidades no Benfica e arrastar a decisão para o prolongamento, provou que há matéria-prima para se pensar num crescimento sustentado - atenção a Carlos Mané... -, mas, a começar pelo eixo defensivo, é preciso acrescentar qualidade ao plantel e ter mais gente que não trema e se assuma nos choques com os melhores. Carrillo, por exemplo, só não é titular de caras porque não quer - ontem saltou do banco e fez das suas no melhor período dos leões...