Antes do Tacuara, o último jogador do Benfica a marcar um hat trick aos leões para a Taça de Portugal foi o Pantera Negra, em 1972, mas ninguém o havia feito em jogos em casa. E foi também a velha glória encarnada quem ajudou a segurar o Tacuara na Luz, pois, como confessa a O JOGO, "quem marca 30 golos por época não pode sair"
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Nem no Campo Grande, nem no antigo Estádio da Luz - nenhum jogador do Benfica até ao último sábado havia apontado três golos na condição de visitado num dérbi com o Sporting para a Taça de Portugal, facto que reforça a dimensão do cometimento de Cardozo. Os dois históricos do futebol nacional já se defrontam nesta prova desde 1942, mas o feito do matador ganha outra expressão quando se percebe que foi Eusébio a festejar o último hat trick sobre os leões na prova (1972). O próprio Pantera Negra, aliás, revela a O JOGO que meteu uma cunha ao presidente para segurar o goleador - sem a pressão dele, talvez anteontem não tivesse havido festa paraguaia na Taça.
Depois do incidente na última final benfiquista com o Vitória de Guimarães, o Tacuara chegou a estar com um pé no Fenerbahçe, mas a intervenção do King junto de Luís Filipe Vieira terá ajudado também na permanência do goleador. "Só é pena que não tenha marcado na última final. Mas isso já passou e a verdade é que se não fosse eu a bater-me com o Luís Filipe [Vieira], se calhar Cardozo agora já não estava no Benfica", dispara a velha glória, justificando o porquê de tamanha insistência junto da mais alta instância do emblema da Luz: "Eu só tinha de falar com uma pessoa. Era o presidente e mais nada. E na altura deixei-lhe bem clara a minha opinião. Um jogador que marca 30 golos por época nunca pode sair do Benfica. Felizmente assim foi. Estou muito contente por ele continuar. É um jogador muito importante, que faz falta ao Benfica, e agora contra o Sporting só voltou a mostrar isso mesmo."
Olhando para os pergaminhos encarnados em todos os outros dérbis na competição, é preciso recuar mais de 40 anos para encontrar quem tenha faturado um hat trick contra os leões. O Pantera Negra ofereceu a vitória na Taça a 4 de junho de 1972 no Jamor (3-2). Mais de quatro décadas passadas, foi já neste verão que Eusébio acabou por ser importante a segurar Cardozo na Luz, com o antigo goleador a confessar que em boa hora o fez. A especial apetência do internacional paraguaio para marcar ao Sporting também não escapa ao King. "É louvável. Ele está de parabéns, ainda por cima tendo jogado lesionado. É sempre melhor marcar três golos a uma equipa como o Sporting do que à Sanjoanense, por exemplo. Com todo o respeito pelos outros adversários, a verdade é que fazer tantos golos no mesmo jogo contra uma equipa grande, um rival histórico, tem sempre um significado especial", prossegue o embaixador encarnado, explicando que "também há uma motivação extra nestes clássicos, em que toda a gente quer dar 200 por cento para vencer".
Para o histórico goleador, Cardozo é mesmo um exemplo de predador de área. "É um ponta de lança a sério. Um jogador que no espaço de 90 minutos, se não marcar dois ou três golos, marca pelo menos um. Mesmo que, por isto ou por aquilo, alguns possam não gostar tanto do estilo, a verdade é que ele é um goleador com letra grande e ponto final", remata Eusébio.