Com um erro clamoroso, Artur facilitou o golo de um Estoril de alto nível. Entre os muitos golos falhados e a expulsão de Carlos Martins, o Benfica deixou o FC Porto a depender de si próprio para ser campeão. O clássico ferve.
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Há situações em que qualquer um fica radiante por se enganar. E assim está certamente Vítor Pereira desde ontem à noite. O treinador do FC Porto equivocou-se, e de que maneira. Se, na antevisão ao jogo com o Nacional, tinha manifestado a certeza de que "de uma maneira, ou de outra", o Benfica iria levar de vencida o Estoril, acabou por ver os encarnados deixar escapar dois pontos numa altura crucial, mais que não seja porque no próximo sábado há clássico no Dragão e, pela primeira vez em largas semanas, os azuis e brancos voltam a depender apenas de si próprios para revalidarem o título. Na história deste empate, há muito demérito das águias, mas também elogios a servir em dose larga a um Estoril personalizado ao ponto de conseguir gelar o Inferno da Luz. O frango de Artur e a expulsão de Carlos Martins configuram uma espécie de suicídio bem aproveitado pelos homens da Amoreira.
Jorge Jesus cumpriu com o prometido, abrindo apenas espaço ao já esperado regresso de Melgarejo. E o Benfica entrou com tudo. Com apenas nove segundos de jogo, já Lima obrigava Vagner a aplicar-se, no seguimento de um lance tirado dos livros. Se a entrada foi de rompante, os instantes que se seguiram mais pareciam de uma águia a disputar os últimos minutos de um qualquer prolongamento numa final, tal a pressão e a intensidade colocada no relvado pelos comandados de Jesus. Durante uns bons dez minutos, o Estoril mal conseguiu respirar. Mas ao fim de umas indicações de Marco Silva - e que bem esteve ontem o jovem técnico -, os visitantes acertaram marcações, subiram linhas e lograram ainda obrigar o Benfica a correr mais para chegar à baliza. Tal cenário, de braço dado com uma quebra de andamento dos das casa, deu a conhecer um jogo mais equilibrado. À passagem da meia hora (32'), Jesus teve a sua primeira contrariedade ao ter de substituir o lesionado Enzo Pérez por Carlos Martins. E a exemplo do que tem sucedido nas últimas ocasiões, o internacional português até entrou bem, fazendo rodar o motor que ontem olhou para um Lima irreconhecível na finalização - só na sua conta pessoal, o brasileiro teve quatro os golos desperdiçados. Mas é preciso não esquecer que, pelo meio, o Estoril também nunca se esqueceu de pôr a defesa benfiquista em sentido.
Impulsionados por um Jefferson de alta rotação e, de uma forma geral, com toda a equipa a funcionar como tal, os canários entraram melhor na segunda metade. E no espaço de apenas quatro minutos (entre os 55' e os 59'), o lateral-esquerdo estorilista tornou-se figura do encontro. Primeiro, ao evitar um golo "feito" de Maxi Pereira, depois batendo o livre direto que levou Jesus a um ataque de nervos, com Artur a dar um frango imperdoável. Impulsionado pelas bancadas, o Benfica lançou-se então à procura do empate, que conseguiu precisamente da mesma forma com que jogou toda a segunda parte: muito coração, pouco discernimento. Expoente máximo desta atitude, Maxi Pereira fuzilou Vagner, mas antes (64') já Marco Silva tinha lançado a teia para pontuar, lançando Gerso no lugar de Luís Leal e passando Licá para o centro do ataque. Com o golo encaixado, nova mexida feliz, com a entrada de Diogo Amado para começar a defender o resultado. Jesus respondeu de imediato, quis arriscar, e desequilibrou a equipa ao mandar Melgarejo para as cabinas, abrindo espaço a Rodrigo. E foi já com Gaitán a lateral-esquerdo que Carlos Martins viu o segundo amarelo em menos de dez minutos, amputando uma águia que tinha uma quarto de hora para tentar a vitória.
Perante o acerto do Estoril, e com menos um homem, o Benfica não conseguiu ir além de momentos sofríveis e, claro está, ainda com alguns sobressaltos pelo meio, pois o Estoril andou até perto de vencer na Luz. E assim, quase três meses depois, os encarnados voltaram a perder pontos na Liga, enquanto a equipa de Marco Silva bem mereceu o ponto que a deixa a uma vitória de assegurar um lugar na Liga Europa.
