Villas-Boas diz, em entrevista a O JOGO, que é a filosofia do FC Porto que tem feito a diferença nos últimos campeonatos.
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Há dois anos e quatro dias, dezenas de adeptos do FC Porto concentraram-se na mesma rua onde ontem falámos com Villas-Boas e pediram ao treinador que não aceitasse a proposta do Chelsea. À distância, AVB analisa um percurso que o mudou mais a ele do que ao clube do seu coração, que continuou a ganhar às custas de um Benfica de Jesus que merece elogios, mas que ainda não passa no algodão dos clássicos...
Tem participação no tricampeonato do FC Porto, que curiosamente é conseguido sempre em concorrência com o Benfica de Jorge Jesus. Esta sequência de vitórias significa o triunfo de um conceito de futebol sobre outro?
Eu faço parte do tricampeonato apenas enquanto vencedor do primeiro título. O Jorge Jesus é um treinador agressivo, destemido e que monta as equipas para atacar. Surpreendentemente, ou não, porque a estratégia pode adaptar-se aos diferentes jogos, o que vimos no encontro decisivo do campeonato foi um Benfica completamente diferente do que estava a ser. Infelizmente para eles, já assim tinha sido contra o Estoril. Mas o Benfica competiu sempre de forma extremamente agressiva e, na minha ótica, ambas as equipas são bem montadas e destemidas. O Jesus é agressivo, virado para o ataque e com muita cultura de 4x4x2, o que é muito difícil de encontrar em Portugal. Num campeonato onde FC Porto e Benfica tiveram um percurso imaculado, deixar tudo para se decidir no Dragão foi o ponto final para o Benfica. Apresentar-se daquela forma tão surpreendente pode ter sido uma estratégia ou uma consequência das condicionantes do jogo, pelo facto de o FC Porto jogar com a emoção, mas não reflete o que eles foram durante toda a época.
Na sua temporada, os confrontos entre FC Porto e Benfica pareciam a raposa e a galinha, mas nas duas últimas épocas a diferença também se fez nos clássicos e a favor do equilíbrio do FC Porto...
O FC Porto tem uma cultura de 4x3x3 muito bem implementada, todos os jogadores a compreendem. A disciplina interna e a exigência de ganhar dá conforto em campo, mas aqui estão em jogo vários fatores. O que parece ser uma constante é que a filosofia FC Porto continua a sobrepor-se.
Como evitar uma conclusão destas três temporadas? Houve sempre grande expectativa em torno do Benfica...
A partir do momento em que se transforma num bloqueio mental e numa inspiração para os outros, isso começa a ser pesado. Sair dessa rotina é complicado. Há estatísticas engraçadas: equipas que chegam a um campo e perdem sempre; jogadores que noutro determinado campo marcam sempre. Esses estados emocionais são uma constante no futebol, para mim são decisivos e muitas vezes têm esse efeito de bloqueio mental. Contra o FC Porto, há mais ansiedade e antecipação de derrota do que a descontração para se exprimir todo o potencial em campo. Talvez esse bloqueio esteja a acontecer...
Tem falado com Vítor Pereira? Como analisa o processo que levou à sua saída?
Em quatro anos, o FC Porto vai ter o terceiro treinador. A mudança acontece, mas o ciclo de vitórias mantém-se. Custa-me ver um treinador partir quando é vitorioso, mas não é inédito...
Por aquilo que Pinto da Costa disse, a decisão de sair e ir para o Al-Ahli foi de Vítor Pereira.
Não estou dentro do processo.
Mas é a escolha natural?
Respeito ao máximo as escolhas do Vítor. Se ele acha, não sou ninguém para dizer o contrário. Houve quem julgasse a minha ida para o Chelsea, haverá quem julgue a do Vítor... Se ele se sente feliz, não tenho o direito de dizer o que quer que seja.