Nota negativa no teste de fogo. O FC Porto de Paulo Fonseca foi vítima do mesmo comportamento bipolar que tem marcado as últimas exibições e que faz suceder a uma primeira parte arrasadora um segundo tempo confrangedor
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Arda Turan está ligeiramente fora de jogo no lance que decidiu o encontro de ontem a favor do Atlético de Madrid. Não é um grande fora de jogo, nem grande consolação, mas seria coisa para valer uma semana de polémica cá dentro e sempre prova que os árbitros que apitam na Liga dos Campeões até podem ser mais, mas não são melhores do que os que apitam o nosso campeonato. Mas o árbitro é tema para desenvolver mais adiante.
A verdade, dolorosa como é muitas vezes a verdade, é que o FC Porto já estava a perder fôlego muito antes de Turan ter calado definitivamente o Dragão. De resto, se era um teste, o jogo de ontem não deixou de revelar mais ou menos as mesmas qualidades e os mesmos defeitos que têm marcado as últimas exibições dos portistas, nomeadamente o comportamento bipolar que faz suceder a uma primeira parte particularmente arrasadora, um segundo tempo proporcionalmente confrangedor.
A notícia é que, afinal, não é Quintero que faz a diferença. O colombiano começou o jogo no banco e o FC Porto não precisou dele para dominar os primeiros 45 minutos da partida, nem para multiplicar as oportunidades de golo que podiam ter deixado o jogo resolvido antes do intervalo. Aliás, quando precisou dele para reagir ao primeiro golo do Atlético de Madrid, não recebeu muito mais do que uma mão cheia de boas intenções que esbarraram de frente contra a coesão defensiva dos espanhóis. Ora, sem ser uma novidade numa equipa que apenas tinha sete golos sofridos em dez jogos oficiais esta temporada depois de já ter defrontado o Barcelona e o Real Madrid, nem por isso deixa de ser impressionante a forma como os espanhóis se desdobram para garantir a segurança da baliza de Courtois. De resto, também não deixa de ser natural que a única forma de contorná-la tenha sido um lance de bola parada. É verdade que o livre que Josué cobrou para Jackson transformar no primeiro golo da partida surgiu na sequência do claro domínio exercido pelos portistas desde o início do encontro, mas também parece evidente, a esta distância, que esse foi um domínio pelo menos tão consentido pelos espanhóis como imposto pelos campeões nacionais.
Tal como Paulo Fonseca tinha dito na véspera, o Atlético é uma equipa que se sente confortável entregando a iniciativa de jogo ao adversário, para explorar o contra-ataque. O que não disse, mas também se sabia, é que os espanhóis são particularmente perigosos em lances de bola parada, o que tornaria aconselhável limitar-lhes as oportunidades para os ensaiar. Em vez disso, o FC Porto deixou-se cair na tentação das faltas desnecessárias para travar o ímpeto com que o Atlético entrou no segundo tempo, sustentado na velocidade que Cristian Rodriguez acrescentou ao corredor direito do ataque, mas também na multiplicação das soluções a meio-campo com a entrada de Koke. Josué foi o primeiro a pecar, oferecendo o livre que Gabi cobrou para Godin fazer o empate. Fonseca reagiu, procurando esticar a equipa até Jackson com Licá e Quintero, mas conseguiu pouco mais do que torná-la curta atrás. Um espaço que os espanhóis aproveitaram para multiplicar as incursões no ataque, tornando mais ou menos inevitável um deslize decisivo como aquela falta ingénua de Mangala sobre Koke que havia de colocar um ponto final no jogo e na invencibilidade de Paulo Fonseca. A boa notícia da noite, tem de se procurar muito longe do Dragão: o Zenit empatou em casa com o Áustria de Viena o que relativiza os efeitos da derrota de ontem nas contas do apuramento, mas não altera uma evidência: o FC Porto reprovou no primeiro teste de fogo. Talvez seja tempo de Paulo Fonseca rever a matéria.