O espanhol sofre pouco mais de metade dos golos que sofria na Luz. Luís Matos, ex-técnico de guarda-redes do Benfica, recorda como era trabalhar com ele: tinha problemas de confiança pelo preço que custou e até com a bola da Liga portuguesa embirrou
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Nos treinos nunca Roberto refletia aquilo que, depois, se passava em campo. Foi assim no início e assim se manteve até ao final da época, quando recebeu guia de marcha para voltar a Espanha e ao Saragoça. Agora, ao serviço do Olympiacos, conquistou adeptos, crítica e até colegas de equipa, tendo inclusivamente parado dois penáltis na Liga dos Campeões. Os números não enganam: no Benfica, sofria 1,12 golos por jogo; na Grécia, esse registo é de 0,6.
Luís Matos era o treinador de guarda-redes na temporada em que Roberto esteve na Luz. "Ele tem mais qualidade do que mostrou no Benfica", disse ontem Luís Matos numa longa conversa com O JOGO. "Eu dei-lhe mais apoio do que ao meu próprio filho. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para que ele ultrapassasse aquela fase de intranquilidade", disse. O problema é que essa intranquilidade começou logo na pré-temporada. "No encontro com o Sion, as suas tomadas de decisão foram precipitadas e sofreu dois golos esquisitos. Os adeptos ficaram desconfiados e essa insegurança passou para ele", explica Luís Matos, garantindo, contudo, que a ansiedade do jogador só se notava no aquecimento, antes dos jogos. "Ele dizia sempre que estava tudo bem, exteriormente tentava não dar a entender tensão, mas eu sentia que ele não estava sereno. Nos treinos, era sempre trabalhador, disponível para aprender e humilde", afirmou o técnico, que também deixou a Luz em 2011.
Entrando num espiral de insegurança, o guarda-redes começou a embicar nos 8,5 milhões de euros que o Benfica tinha pago ao Atlético de Madrid pela sua aquisição. "A certa altura começou a falar-se muito do valor da transferência e ele começou também a sentir dificuldades em conviver com isso. Ele próprio não entendia porque tinha sido tão caro. Eu dizia-lhe para estar só concentrado no futebol, conversava muito com ele e até fui aconselhar-me com o nosso psicólogo Pedro Almeida para saber o que fazer."
E depois? "Depois ganhou o trauma da bola da Adidas, a Jabulani. Dizia que tinha umas curvas. Ele gostava era das bolas Nike. Notava-se logo outra confiança."
A pressão de ter custado tanto dinheiro, a intranquilidade que passou aos adeptos e que ele próprio ganhou - no fundo, as questões psicológicas - foram, para Luís Matos, os principais motivos do fracasso de Roberto. Mas não apenas isso. Na verdade, o técnico, atualmente no desemprego, reconheceu também no jogador uma série de lacunas que não ajudaram em nada o seu percurso de águia ao peito. E a principal era "o atraso na tomada de decisões". "Fazia sempre um compasso de espera e acabava por sair atrasado." Problema que o treinador lhe reconhece ainda hoje. "Vi o jogo entre Olympiacos e o PSG e achei o mesmo. O que acontece é que agora está mais confiante", afirmou. Outra das carências técnicas tinha que ver com "o bloqueio da bola quando ela vinha mais baixa". "Como era alto, abria muito as pernas e isso dificultava-lhe o gesto. Agora, no um para um era excelente", argumentou. "Roberto sofreu no Benfica os golos mais esquisitos que um guarda-redes pode sofrer durante toda a carreira. Lembram-se daquele marcado por Hugo Viana quase de meio-campo em Braga? Aquilo não há treino nenhum que possa ensinar."