Uma vez mais, o Benfica contou com os deuses para não sair chamuscado. Melgarejo cedeu já na segunda parte, oferecendo o golo ao Fenerbahçe, mas seria uma injustiça o empate
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Sorte, muita sorte. O Benfica sai de Istambul com a eliminatória em aberto. Perdeu por 1-0, com um golo de Korkmaz aos 72', mas poderia ter hipotecado todas as suas possibilidades no primeiro jogo das meias-finais da Liga Europa. Isto porque antes de chegar ao golo, o Fenerbahçe já tinha rematado três vezes aos ferros. Primeiro foi Webo, num golpe estupendo de cabeça a acertar na barra; mesmo no fim da primeira parte, Baroni, na transformação de uma grande penalidade, voltou a assustar o guardião benfiquista acertando de novo no poste; e ainda Kuyt, numa rotação fantástica já dentro da área, a colocar a bola no poste (caprichosamente acabou nas mãos de Artur). Se olharmos para o histórico desta temporada na prova, o Benfica já soma sete bolas nos ferros (duas do Bayer Leverkusen, duas do Newcastle e 3 do Fenerbahçe).
Por fim, lá surgiu o golo. Mas até esse remate fatal de Korkmaz, aos 72', ainda bateu no poste antes de seguir para a baliza de Artur - Jardel tirou a bola para lá da linha.
Melgarejo acabou por ser o aliado que faltava à equipa turca e colocou a bola à disposição do central do emblema de Istambul para que este encostasse com a testa. A corda acabou por partir pelo lado mais frágil e previsível das águias, o esquerdo. E não se trata apenas das dificuldades que o internacional paraguaio sentiu por defrontar um jogador mais experiente, como foi o caso de Kuyt... O acompanhamento também não foi o mais indicado nestas circunstâncias: Ola John não foi decididamente o parceiro ideal para travar as investidas do Fenerbahçe por aquele corredor. Aliás, o internacional holandês esteve mesmo na origem da grande penalidade que Baroni viria a atirar ao poste. Juntos, Melgarejo e Ola John tornam-se vertiginosos, deixando sempre algum espaço nas costas.
Jorge Jesus não surpreendeu taticamente, mantendo o dispositivo que tem utilizado nos jogos europeus, sobretudo fora, mas surpreendeu ao incluir nas suas escolhas iniciais Pablo Aimar, que não jogava de início desde 30 de janeiro com o Paços de Ferreira para a Taça de Portugal. El Mago surgiu nas costas de Cardozo, numa posição de grande desgaste e para a qual não está neste momento minimamente preparado.
Percebeu-se a intenção. Jesus pretendia cortar o fôlego ao adversário, contando com a qualidade técnica e frieza do argentino, mas este não conseguiu atingir o patamar desejado, também era difícil, e acabou mesmo por ser substituído ao intervalo. Aimar não acompanhou Cardozo nem teve capacidade para manter a bola do lado das águias.
Mais recuado, mais próximo de Matic, surgiu André Gomes. O jovem português também perdeu a batalha no meio de Topal, Raul Meireles e Baroni, não defendendo como devia e atacando de forma sofrível. Matic ficou praticamente sozinho entregue à armada turca. O sérvio jogou bem, lutou muito, tentou atacar, mas não conseguiu apagar todos os fogos e Topal e Baroni tomaram conta das operações no miolo, empurrando as águias para trás durante quase todo o desafio.
O Benfica viveu de fogachos, nunca dando a sensação de que poderia assumir a liderança da partida. Apenas na parte final, e após a entrada de Carlos Martins, chegou mais perto da área do adversário, embora sem construir lances de verdadeiro perigo. Os encarnados foram quase inofensivos e só Gaitán espreitou o golo na segunda metade - o remate em arco do argentino bateu na barra, imagine-se!
Cardozo, o elemento mais avançado, não colocou à prova Demirel e isso diz bem o que foi o ataque da equipa da Luz. O ponta de lança bem tentou, mas raramente recebeu a bola em condições e não teve apoio porque os médios chegaram invariavelmente com muito atraso à área adversária.
O Benfica está, no entanto, bem dentro da eliminatória, tem todas as possibilidades de seguir para a final, mas terá de contar com o coração da equipa turca que nunca desiste e habitualmente marca fora. No próximo jogo, Jorge Jesus não terá de se preocupar com Webó, Topal e Raul Meireles, três pedras importantes no adversário. Os dois primeiros ficam de fora por castigo e o internacional português não deverá jogar por lesão.
Esta derrota inverte a tendência da equipa portuguesa, que já não perdia desde Outubro. O último desaire fora com o Spartak de Moscovo na fase de grupos da Liga dos Campeões. Por outro lado, esta é a quinta vez que os encarnados não marcam golos esta época, depois dos jogos com Celtic, Barcelona (duas vezes) e Braga, para a Taça da Liga.
