
Aos 15 anos, teve de partir sozinho à procura de um sonho que quase ficou destruído com uma grave lesão. Recuperou, arriscou uma mudança para o FC Porto e agora está à porta de se estrear na equipa principal
No dia em que fechou o mercado de transferências do último verão, a 2 de setembro, o FC Porto surpreendeu com a inscrição de um jovem belga com um nome esquisito: Joris Kayembe Ditu. Na altura, soube-se apenas o essencial: idade, posição em campo, de onde vinha e, claro, o tal nome esquisito aos nossos ouvidos. Soube-se também, através dos jornais belgas, que o Standard Liège, o seu anterior clube, estava a tentar renovar-lhe o contrato e não gostou de saber que o tinha perdido para o FC Porto.
No entanto, a aventura de Joris Kayembe em Portugal começou pela formação secundária dos dragões, mas agora, quase nove meses depois, o extremo belga de 19 anos (completa 20 em agosto) até pode estar perto de fazer a estreia numa lista de convocados da equipa principal.
Filho de pais congoleses que emigraram para a Bélgica, Joris Kayembe nasceu em Jette, uma das 19 comunas localizadas em Bruxelas. A paixão pelo futebol começou cedo e aos seis anos foi jogar para o clube da terra. Precisou de mais seis anos para despertar a atenção de um dos principais clubes da capital, o FC Brussels, de onde saiu, já com 15 anos, para o Standard, uma das principais escolas de futebol de um país que tem apostado forte na formação.
A mudança para Liège foi um dos momentos mais difíceis da sua vida. Partiu sozinho, em busca de um sonho, sem os pais, que não tinham condições financeiras para o acompanhar. Por lá, passou os quatro anos seguintes a viver no centro de estágio do clube na companhia de tantos outros jovens que procuravam o mesmo sonho: ser jogador profissional.
Aos 18 anos, porém, sofreu uma lesão grave, das piores para um atleta - rotura dos ligamentos do joelho - e logo numa altura em que até estava pela primeira vez pré-convocado para a seleção sub-19 da Bélgica (já tinha sido internacional nas categorias de sub-16 e sub-17). Kayembe chegou a admitir que o tal sonho por que tanto lutou tinha acabado, mas a verdade é que conseguiu dar a volta por cima. Sete meses depois já estava a jogar e, após vários meses de negociações para renovar contrato com o Standard, chegou a proposta do FC Porto.
Na altura, não hesitou e viajou para Portugal, onde, como disse há tempos, ficou "impressionado com o profissionalismo que suporta o clube." Tal como aconteceu quando trocou Bruxelas por Liège, viajou sozinho, sem os pais, mas encontrou em Defour, Ghilas e Mangala - sobretudo o francês - a base para aguentar os primeiros tempos de uma aventura no desconhecido. Agora, a língua portuguesa começa finalmente a deixar de ser um problema, até porque Kayembe está a aprender há mais de seis meses. Nos treinos ou nas palestras, já entende praticamente tudo o que ouve, mas para arriscar na fala ainda lhe falta alguma confiança, aquela que parece nunca deixar de ter quando parte para cima dos adversários.
