ZOOM - O dia seguinte de ingleses e espanhóis após "batalha" histórica na Liga das Nações
Dois reinos com rivalidades históricas. No futebol, os imperiais espanhóis - que venceram dois Europeus (2008 e 2012) e um Mundial (2010) no atual século - tentam evitar o declínio. Os ingleses encontram e empatizam com jovens heróis que os façam acreditar que podem ser, no mínimo, favoritos nas competições internacionais nos próximos tempo. O "day after" de uma vitória inglesa sobre a Espanha, entre opiniões e humores.
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No dia em que a primeira-ministra Theresa May, anunciou à Imprensa que ainda era possível um acordo com a União Europeia para a saída do Reino Unido - ainda não é claro se sai todo o "kingdom" ou apenas a Inglaterra e Gales, por exemplo - a seleção do seu país vencia, em plena Andaluzia, a Espanha. O que não acontecia desde 1987, há 31 anos.
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A rivalidade entre ingleses e espanhóis remonta aos alvores das primeiras nações europeias. E ganhou contornos acentuados entre 1585 e 1604, período da histórica Guerra Anglo-Espanhola. A "primeira" Isabel inglesa, capitã dos desígnios protestantes no Velho Continente, e o "segundo" Filipe espanhol, guardião do catolicismo crescente, andaram pegados durante 19 anos.
O momento mais impressionante, contam os relatos de então, foi a forma como os navios e as defesas inglesas travaram a Armada Invencível espanhola, com cerca de 180 navios, evitando o desembarque de milhares de tropas e empurrando-a para as tempestades da Mancha.
Ingleses e espanhóis têm essa rivalidade histórica desde então, passando pela divisão do Mundo no período das Descobertas e pela colonização dos territórios em todo o planeta. Ainda hoje, sublinhe-se, Inglaterra e Espanha se batem pelo título de melhor campeonato de futebol no mundo. Premier ou LaLiga, escolham as armas...
Não sabemos se estará a coisa relacionada com a História, a verdade é que os selecionados ingleses foram brindados no Estádio Benito Villlamarín, em Sevilha, com um monumental coro de assobios no momento em que entoava o seu hino. Coisa que a UEFA poderá não perdoar. A ver...
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Voltando ao enorme e histórico momento da identidade inglesa, que dobrou os séculos XVI e XVII, é algo parece pouco ter a ver com um resultado de futebol. Ou tem? Bem, se navegarmos pelas ondas internéticas, a celebração do feito de segunda-feira, sobretudo nos Media ingleses, é fator de regozijo e entusiasmo.
Raheem Sterling, inglês nascido na Jamaica e avançado do Manchester City - Golden Boy em 2014 - é o herói do momento, por ter assinado dois dos três golos do conjunto orientado por Gareth Southgate, na partida a contar para a Liga das Nações.
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Mas a fleuma britânica permite, também, gozar com a sensação, mesmo que efémera, de "melhor equipa do mundo", como no cartoon de David Squires, residente do The Guardian. Desde o jogo à porta fechada com a Croácia e os seus pecadilhos relacionados com os movimentos de extrema-direita a Luis Henrique, selecionador espanhol, vestido de Torquemada, o Grande Inquisidor, do século XV.
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Do outro lado da Mancha, e porque o humor não tem nação, há quem recorde que é o cantor espanhol Luis Henrique que sofre quando o treinador Luis Henrique não consegue fazer a sua seleção ganhar. O mural do cantos romântico enche-se de insultos e desabafos quando os tweets lhe são erradamente endereçados pelos que não confirmam o destinatário.
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Tudo podia ter sido bem pior, não fosse, aos 90+8, Sergio Ramos reduzir para 3-2. Nunca se saberá se a primeira parte (3-0 para a Inglaterra) foi um "blitzkrieg" ou tão-só uma notável peça de futebol total da equipa britânica, que desde 1966 não ganha nada que se veja. OU seja, desde o título Mundial, conquistado em casa, depois de baterem Eusébio e Portugal nas meias-finais.
Dave Kidd, do The Sun, diz que a "magistral demolição protagonizada por Sterling revela a sua maturidade". Por sua vez, Jose Luis Hurtado, na Marca, refere que "Busquets não é um super-homem" e refere-se à invisibilidade do seu trabalho em campo: "Neste mundo moderno há futebolistas que são bons porque nunca recebem prémios". Para o cronista, o motor espanhol "gripou" porque Busquets, sobretudo, não esteve ao seu nível.
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E se a História nos dá detalhes passíveis de extrapolações, recordamos que a caminhada lusitana rumo ao seu primeiro título internacional pode muito bem ter tido o seu início em 2010, num 4-0 frente aos espanhóis. É certo que foi um "amigável", se é que isso existe entre rivais.
Resta saber o quanto pesará, no futuro, a vitória inglesa nesta nova competição que pretende acabar com os amigáveis entre fases finais de Europeu ou Mundiais. Mas que a excitação britânica ganha forma, lá isso ganha. Bater a Espanha é sempre barómetro de alguma coisa.