Muitas vezes, é um período de tempo que faz os factos. Se assim não fosse, não poderíamos escrever em título que o treinador português Leonardo Jardim saiu a tempo do Mónaco, clube da liga francesa de futebol que, segundo o diário L'Equipe, poderá mudar de mãos. Até porque as do atual presidente estão "algemadas", suspeita-se até que estarão sujas por procedimentos ilegais de gestão e particulares.
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O Mónaco, que está nas bocas do mundo há um par de dias, poderá ser vendido muito em breve, segundo a edição de hoje do diário desportivo francês L'Equipe. Tudo isto porque o seu dono, o russo Dimitri Rybolovlev, está entalado numa teia judicial, formalmente acusado, hoje, de corrupção. E o que corre mal na administração do clube tem espelho no desempenho da equipa, porque o atual treinador, Thierry Henry, não tem conseguido melhor do que o despedido Leonardo Jardim.
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O magnata russo passou a noite na cadeia, depois de ter sido detido, terça-feira, em sua casa, em Monte Carlo. É alvo de uma investigação judicial aberta há um ano pela procuradoria-geral monegasca, por suspeitas de corrupção e por tráfico ativo e passivo de influência. Não há ainda novidades sobre a sua eventual libertação ou aplicação de medidas de coação. Mas há notícias fresquinhas sobre a dimensão do caso: foi formalmente acusado pelas autoridades francesas, segundo a agência France Press e o L'Equipe.
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O caso envolve queixas do magnata russo contra um negociante de arte, um processo bem explicado (neste link) pelo jornal inglês The Guardian, e o desenrolar da novela até já custou a demissão do ministro francês da Justiça, há uns meses.
Entretanto, o Kremlin diz acompanhar o processo. Segundo um porta-voz do governo de Vladimir Putin, citado pela agência russa TASS, "é normal acompanhar este tipo de casos com cidadãos russos no estrangeiro".
Mas as ondas de choque desta detenção chegam também aos Estados Unidos, onde alguns se recordam de uma conexão entre Rybolovlev e o presidente Trump. Oliver Bullough, jornalista e autor de livros políticos, recorda que o russo foi comprador de uma propriedade de Donald Trump, antes de este ser eleito, na Florida, por 95 milhões de dólares), e de outra em Nova Iorque, por 88 milhões de dólares, negócios que estarão ainda sob o radar da justiça e da fiscalidade norte-americana.
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Mas há mais no ar, uma vez que Rybolovlev foi também visado, nos últimos dias, por notícias que dão conta de um esquema financeiro que encobria injeções de dinheiro no clube fora do radar da UEFA. Uma publicação do Football Leaks que a imprensa internacional deu eco, com uma pequena diversão pelo meio: contactos mantidos com o Real Madrid, que estaria disposto a dar mais de 200 milhões de euros pelo internacional Mbappé.
Aqui pelo cantinho luso, à conta destes últimos episódios, dão-se alvíssaras ao despedimento de Leonardo Jardim. Parece estranho? Mas não é. A sua saída não podia ter sido em melhor altura - há menos de um mês -, pois assim não tem que aturar as complicações de uma sociedade desportiva em declínio acentuado. O chicote nem sempre funciona, como se comprova.
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E porque o Mónaco até foi ontem goleado em casa, no mesmo dia da detenção do seu presidente, pelos belgas do Brugges, para a Liga dos Campeões (0-4), convém juntar a este baralho todo o facto de Thierry Henry, substituto de Jardim, levar todos os seus cinco jogos com a braçadeira de treinador sem ganhar um único jogo... São três derrotas e dois empates, e segue-se a visita ao fortíssimo Paris Saint-Germain, no sábado. Não são bons augúrios.