Zinchenko critica quietude de colegas russos e frisa: "O meu povo vai morrer, mas não desistirá"
Ucraniano fez reparos à não contestação pública por parte de futebolistas da Rússia sobre a guerra, elogiou a perseverança compatriota e enumerou as consequências psicológicas
Corpo do artigo
Voz ativa na condenação da invasão militar da Rússia em território da Ucrânia, Oleksandr Zinchenko, jogador ucraniano do Manchester City, criticou o silêncio maioritariamente generalizado de futebolistas russos em oposição à guerra.
"Fiquei surpreendido que nenhum deles [n.d.r. Dyzuba, capitão da seleção russa, reagiu publicamente contra a iniciativa russa] tenha dito nada. A maioria joga na seleção, têm muitos seguidores no Instagram, Facebook... E eles podem, pelo menos, fazer algo para parar esta guerra. As pessoas podem ouvi-los. Eu já sei que eles estão com medo... Mas estão com medo de quê? Não vão fazer nada contra eles. Podem dizer o que pensam, mas ignoram", lamentou Zinchenko, em entrevista dada à britânica "BBC".
O futebolista do Manchester City realçou, em função da resistência ucraniana, tanto de militares como de civis, à movimentação militar russa, a perseverança dos compatriotas e como que admitiu esperar um desfecho inglório, trágico.
"Conheço as pessoas do meu país, a mentalidade delas, e todas pensam exatamente da mesma forma. Estou tão orgulhoso de ser ucraniano e estarei para sempre. Observa-se a forma como lutam pela vida. Eu conheço as pessoas, a mentalidade do povo do meu país. Preferem morrer e vão morrer, mas não vão desistir", assinalou.
Zinchenko, a mais de três mil quilómetros de distância, reconhece que tenta fazer uso do poder das palavras para combater, por exemplo, a propaganda russa. Segundo a "BBC", o Kremlin tem ordenado a transmissão de versões alternativas.
"A [minha] missão é mostrar ao resto do mundo a verdade. Falei com muitas pessoas e disseram que a forma como a TV russa está a mostrar [a guerra] é ridícula. Há cidades onde os civis russos estão a fazer protestos falsos como "queremos estar com a Rússia". Posso mostrar um milhão de fotos e vídeos sobre o que estão a fazer agora, [imagens de] todas as cidades que destruíram", relatou o jogador.
Zinchenko pormenorizou, ademais, as consequências psicológicas tidas por causa do despoletar da guerra na Ucrânia e confessou que seria voluntário na defesa do território do país-natal caso não tivesse família a seu lado no Reino Unido.
"Fiquei em choque. Talvez o sentimento mais próximo seja quando alguém do nosso círculo [familiar] morre. Choro há uma semana. Posso ir a conduzir para o centro de estágios e começo chorar do nada. Está tudo na cabeça. (...) Se não fosse pela minha filha, pela minha família, eu estaria lá", concluiu o futebolista do Manchester City.
A Rússia lançou, em 24 de fevereiro, uma ofensiva militar à Ucrânia e as autoridades de Kiev já contabilizaram mais de 2.000 civis mortos, inclusive crianças. Segundo a ONU, os ataques provocaram mais de 1,2 milhões de refugiados.