"Vitinha e João Neves recriam época de ouro do Barcelona, Félix é dos melhores"
ENTREVISTA, PARTE II >> Paulo Sousa não julga Roberto Martínez e enaltece a qualidade concentrada por muitos dos melhores do mundo
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Paulo Sousa avisa que nunca teve sondagens transformadas em convites da Liga, mas fica aberto a um regresso. Definindo um desejo, só mesmo vencer algo importante na Seleção.
Treinar em Portugal pode estar mais longe ou mais perto de acontecer, numa carreira já tão prolífera?
— Não vivo obcecado por mostrar o meu trabalho, esse pode ser analisado. Não busco reconhecimento, faço o que faço por paixão. Todos os projetos que pensem em mim, todos os que me queiram, fico agradecido. Sou português, de Viseu, mudei-me para Lisboa, joguei no Benfica, Sporting, na Seleção, por tudo tenho muita gratidão. Há um sonho de poder regressar um dia a casa e treinar em Portugal. Digo-o do fundo do coração. Tanto tempo fora ajuda-me a reconhecer o lado bom do nosso país. Mas não há qualquer obsessão, nem nunca tive qualquer proposta clara de um clube. Se algum dia surgir uma proposta evidente, que seja para ganhar, que me vejam como possibilidade, talvez possa acontecer, depende do momento.
Mas face ao que fez, surpreende-se com a falta de convites?
— Nem sempre tem lógica, o futebol vive de uma rede de pessoas e timings. Não temos de ter muitas expectativas, o importante para mim é viver uma cultura de vitória e ambição, estar preparado sempre. Se acreditarem que posso ser útil, contribuir de forma ambiciosa ou ser a pessoa certa para ganhar, isso honra-me.
Há um grande sonho por concretizar ou aponta ainda às conquistas que teve como jogador, já que foi campeão europeu de clubes duas vezes?
— Isso está presente no meu ADN, pelo carisma e ambição. Faço os meus trabalhos pensando em atingir objetivos, mas também em olhar para qualquer jogador e fazê-lo evoluir. A preparação está à vista, foi demonstrada em vários países com adaptação a contextos e realizar tudo o que pretendo na plenitude. Falando de emoções ou paixões, o que posso considerar um sonho maior é ser campeão europeu ou mundial pela Seleção. Mas acho que não sou só eu, qualquer um pensará o mesmo.
Como olha para a era Roberto Martínez?
— Vivo com encanto e paixão cada jogo da Seleção. Vivo como português e como qualquer adepto, seja taxista ou polícia, a parte de profissional de análise fica para depois, seja dos jogadores por posição às tomadas de decisão dentro do sistema. Somos um país que comprova ter os melhores do Mundo, acredito muito na seleção pela qualidade de todos. Se formos corajosos e ambiciosos podemos ganhar todos os jogos com a ideia de vencer títulos. Como aconteceu...
Como grande médio que foi, que médios já lhe encheram ou enchem mais as medidas em Portugal?
— Vi no William Carvalho um potencial brutal, acho que ficou muito aquém de poder atingir o máximo, pelo seu nível físico e qualitativo. O Rúben Neves sempre apreciei muito pelo nível tático de leitura, posicionamento e tomada de decisões muito evoluída. Na nova geração temos o Vitinha e o João Neves a recriarem a época de ouro do Barcelona. E o Florentino tem potencial para se desenvolver com bola.
Leão, Francisco Conceição e Félix, contestados algumas vezes, como avalia os três até pelo seu lastro no Calcio?
— O Leão já foi campeão e o jogador mais regular nesse título. Já mostrou essa capacidade. Se já o fez pode voltar a fazer. O Francisco viveu a primeira época num futebol italiano muito particular e onde a parte tática é fundamental. Precisa de uma adaptação a essa componente, atua maioritariamente no último terço do rival, onde encontra espaços onde eles quase não existem. Penso que ainda precisa da maturidade futebolística. Já o Félix é, para mim, dos melhores do Mundo, precisa de tomar decisões que lhe garantam continuidade. Mesmo no Benfica não a teve, saiu logo.