Carme Coma, vítima de um crime de abuso sexual enquanto exercia funções de mascote no Espanhol, garantiu que sempre pensou em denunciar o atual jogador do Aris, da Grécia
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Depois de o futebolista espanhol Hugo Mallo, ex-capitão do Celta de Vigo, ter sido condenado na quinta-feira por abuso sexual contra uma mulher que trabalhava como mascote do Espanhol, em 2019, por um tribunal de Barcelona, a vítima quebrou o silêncio, aplaudindo esse desfecho.
O lateral-direito de 33 anos, que atualmente joga no Aris, da Grécia, foi condenado por apalpar os seios da mulher sem consentimento após um jogo, sendo obrigado a pagar uma indemnização de 1000 euros à vítima, além de uma multa diária de 10 euros durante 20 meses.
O advogado de Mallo afirmou que pretende recorrer da decisão nos próximos dias, mantendo a defesa de que o jogador não cometeu nenhum delito. Desde o início do processo, Mallo negou as acusações e reiterou a sua inocência.
“Tinha muito claro que queria denunciar e fi-lo no dia a seguir [ao episódio com Mallo]. Sentia ira, asco. Tocar no peito podia parecer uma graçola, uma piada que fica impune, mas disse a mim mesma que não podia ser. Sei que o vídeo foi fundamental para a defesa, mas mesmo à frente de 20 mil pessoas e de câmaras, as pessoas duvidavam do que tinha acontecido. Levo cinco anos calada, com a imprensa atrás de mim para que falasse e não o fiz por respeito ao processo judicial, mas agora que se sabe a sentença pergunto: Por que tenho de me calar? Por que tenho de me esconder? Eu não fiz nada de mal”, afirmou Carme Coma à rádio Onda Cero, numa primeira reação à sentença.
“Em certo, [a condenação de Mallo] reconforta-me, faz-me acreditar que a justiça faz sentido e ajudou alguém anónimo, que não tinha necessidade de passar por estes quatro anos, mas estou satisfeita porque defendi-me com as minhas ferramentas. Estou satisfeita, a sentença foi bastante clara e isto foi o que eu denunciei”, disse ainda ao “Partidazo de COPE”, revelando o que sentiu ao ter sido alvo do abuso sexual: “Fiquei em choque, tentei afastá-lo e gritei ‘c****’, mas ninguém me ouviu porque estava disfarçada num estádio. Fiquei absolutamente chocada, não nos conhecíamos de lado nenhum”.
De resto, a vítima de Mallo recordou os vários obstáculos que teve de ultrapassar até chegar a esta fase do caso e referiu que ninguém próximo ao jogador a tentou contactar ao longo desse processo, algo que, em retrospetiva, admite que poderia ter impedido que apresentasse queixa em tribunal.
“Após um ano e meio, o tribunal de Cornellá arquivou o caso. Recorremos e voltou-se a abrir. Isto aconteceu de verdade e sou uma pessoa normal que está a fazer algo como hobby. Nunca pensei encontrar-me nesta situação. Não houve nada do lado dele. Pensei sobre isso e se tivesse havido desde o início, teria reconsiderado [apresentar queixa]. Mas tomei essa decisão muito cedo, no dia a seguir. Escrevi um email de repulsa ao Celta e ao Espanhol, que me ofereceram ajuda desde o primeiro minuto, tanto pessoal como legalmente”, concluiu.